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26 de maio de 2023

Chegada do El Niño pode deixar temperatura do planeta 1,5ºC mais quente

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Quando a temperatura do planeta já está em alta e um fenômeno climático natural causa ainda mais elevação, o resultado pode ser devastador.

Este é o temor de climatologistas que acompanham de perto a reaparição do El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do oceano Pacífico equatorial, e que deve se instalar com uma intensidade ainda não determinada ao longo dos próximos meses.

O fenômeno já se manifesta na costa do Peru e do Equador e tende a desequilibrar o clima global, com aumento das secas em algumas regiões e das chuvas em outras.

Na circunstância atual, em que a temperatura média global já está 1,1ºC acima dos níveis pré-industriais, até um El Niño fraco, de 0,5ºC, se torna preocupante.

O climatologista Alexandre Costa, pesquisador da Universidade Estadual do Ceará e integrante do IPCC (painel de cientistas da ONU sobre mudanças climáticas), lembra que os oceanos concentram 93% do excesso de temperatura gerado pelos gases de efeito estufa.

O El Niño ‘libera’ parte deste calor para a atmosfera, em vez de armazená-lo.

“Em se tratando de um aquecimento anômalo na maior bacia oceânica do planeta, o calor acumulado nas camadas inferiores do oceano aflora e chega à superfície”, explica.

“O aquecimento global não se reflete com um aumento linear da temperatura: ele costuma ser aos saltos, quando as condições favorecem – justamente quando o oceano libera mais o calor acumulado para atmosfera. E isso acontece particularmente em condições de El Niño. O que acontece é que grandes El Niños são capazes de contribuir com aumento de temperatura global de 0,3 a 0,4ºC”, salienta.

El Niño também está mudando

É por isso que, se ele vier de moderado a forte em 2023 e 2024, seria capaz de instaurar um novo patamar mais elevado da temperatura global, ressalta Costa.

“Uma coisa é quase certa: nós devemos ter um novo recorde de temperatura média global em associação a esse El Niño. Segunda coisa possível: que pela primeira vez a gente chegue ao patamar de 1,5°C de aumento, que é justamente o limiar de segurança preconizado pela ciência do clima e visto como o máximo desejado pelo Acordo de Paris”, destaca Costa.

As interações entre o fenômeno e o aquecimento global, provocado pelas emissões de gases de efeito estufa, são objeto de estudo dos cientistas.

O renomado climatologista José Marengo, também membro do IPCC e coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), afirma que, como a temperatura média global está aumentando, uma anomalia de meio grau provocada pelo El Niño se torna mais intensa do que já foi no passado:

“Os El Niño estão cada vez mais diferentes. É um fenômeno natural, que continua a acontecer, mas tem algumas diferenças com os El Niño dos anos 1980 ou 1970, quando o planeta era menos quente”.

Risco de Amazônia mais seca

Nesse caso, a região da Amazônia se torna particularmente vulnerável a essas alterações, ao receber ar seco que retarda e limita a ocorrência de chuvas.

Numa floresta tropical úmida, isso significa risco maior de queimadas. O pico dos incêndios costuma ocorrer em setembro – justamente quando a Organização Meteorológica Mundial prevê que o El Niño deve estar mais intenso.

“O que já temos observado é que nas regiões do leste e do sul da Amazônia, a estação de menos chuva está ficando mais longa e a estação chuvosa, começando mais tarde. E se a estação ‘seca’ é mais longa, o risco de incêndios é maior”, salienta Marengo.

Alexandre Costa relembra que em anos de El Niño forte, a seca elevou a mortandade das árvores da floresta que, ao se decomporem, emitiram ainda mais CO2.

O ciclo acentua o risco de a Amazônia, em especial no sul e no leste, deixar de ser um sumidouro de carbono para se tornar fonte emissora – portanto, gerando ainda mais impacto negativo nas mudanças do clima.

Os dois especialistas também chamaram atenção para o risco de aumento de temporais e enchentes no sul e sudeste América Latina, podendo atingir essas regiões no Brasil.

“É preciso melhorar os sistemas de alertas e prevenção de desastres antes da chegada das chuvas”, adverte Marengo.

Fonte: ECOA UOL

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