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Manchetes do Mercado

9 de junho de 2023

Seguros para energia renovável no Brasil

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Essa vocação do país cria oportunidades para o mercado de seguros, tanto no próprio Brasil como no exterior. Isso porque demanda por coberturas especializadas está em alta em um mercado que tem pouca exposição a catástrofes naturais.

Do total de eletricidade produzida no Brasil em 2022, 92% veio de energias renováveis, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, CCEE, o operador do mercado elétrico. Trata-se do maior percentual já registrado no país.

A principal fonte é a energia hidrelétrica, que respondeu por 72% da eletricidade produzida no ano passado. Mas a participação da energia eólica vem aumentando com rapidez na última década, passando de 1,2% do total em 2013 para 13,5% em 2022. Usinas eólicas onhsore já produzem 24,1 gigawatts de energia, e o mercado agora está se preparando para investir no recém-regulado setor de energia eólica offshore, ou seja, em alto mar. Este novo tipo de usina é visto como promissor pelas empresas do ramo e já há cerca de uma centena de projetos sendo avaliados pelo governo, segundo fontes do mercado.

O Brasil também está vivendo um significativo aumento dos investimentos em energia solar fotovoltaica. No ano passado, R$35,1 bilhões foram investidos em usinas deste tipo, um aumento de 79% na comparação com 2021, segundo a consultoria Clean Energy Latin America.

O mercado de seguros está consciente deste potencial. Vários subscritores locais e internacionais já estão oferecendo uma série de produtos direcionados às usinas eólicas e fotovoltaicas. A filial local da Tokio Marine, por exemplo, uma das líderes desse mercado, trabalha com estimativas de crescimento anual de dois dígitos no segmento.

“O mercado ainda é fortemente dominado pelas seguradoras locais. No entanto, vemos um aumento do interesse por parte de empresas sediadas no exterior e no mercado de Londres por expandir seu portfólio no Brasil,” diz Severin Hegelbach, o diretor de Knowhow and Advisory Service em Energias Sustentáveis da corretora Howden.

Hegelbach afirma que, em geral, os projetos de energia renovável conseguem encontrar suas coberturas de seguros no mercado local. Mas um número crescente de projetos está utilizando estruturas de project finance organizadas fora do Brasil para levantar financiamento; em tais casos, os bancos e investidores tendem a exigir a compra de seguros no mercado global para melhorar as notas de rating. Riscos de grande dimensão ou que têm um historial de sinistros negativo também necessitam buscar capacidade fora do Brasil, segundo Hegelbach.

Sidney Cezarino de Oliveira Souza, o Diretor de Underwriting na Tokio Marine Seguradora em São Paulo, afirma que o principal produto comprado pelos projetos de renováveis é o seguro de riscos de engenharia, normalmente por exigência dos financiadores. Mas ele observa que a empresa trabalha com uma estratégia de fornecer coberturas para todos os tipos de participantes nos projetos de energia renovável. No ano passado, a Tokio Marine lançou uma única apólice com coberturas para os riscos de engenharia, responsabilidade civil obras e riscos nomeados e operacionais para o primeiro ano de funcionamento de usinas de energia solar.

“Nós provemos seguro para toda a cadeia produtiva, estruturando e entendendo o risco do começo até o final,” afirma.

“Os principais riscos que podem ser segurados incluem danos materiais durante o transporte, construção e operação, quebra de máquinas e equipamentos e falhas elétricas durante a operação, além de lucro cessante,” diz Andoni Hernandez, presidente executivo da Howden no Brasil. “As subestações que conectam o projeto à rede elétrica constituem um gargalo para projetos de energia renováveis, e as seguradoras as estudam com muita atenção devido ao risco de lucro cessante, mas ainda tem sido possível administrar este risco.”

O Brasil é, em grande medida, um mercado não-catastrófico, ao menos no que se refere a eventos que assustam as seguradoras de projetos de energia renovável, como os terremotos e o granizo. Por esse motivo, a capacidade continua sendo abundante no país, ainda que os preços e condições tenham sido afetados nos últimos anos pelo mercado duro a nível global. De acordo com corretores, porém, as seguradoras estão agora fazendo uma avaliação mais rigorosa sobre as práticas de gerência de riscos dos participantes nos projetos.

“O mercado está difícil, é complicado encontrar capacidade, e por isso é necessário apresentar uma análise detalhada dos riscos paras as seguradoras,” diz Paulo Mantovani, diretor de Energia e Mineração na Marsh. “O mercado duro ainda deve seguir por alguns anos, e não devemos voltar aos patamares dos tempos do mercado brando.”

“Nós vimos algumas correções de mercado nos últimos três anos, tanto em preços mais alto e termos e condições mais duras no mercado de energias renováveis. Portanto, em certa medida, o mercado brasileiro acompanhou as tendências do mercado duro em anos recentes,” afirma Hernandez. “Hoje vemos que os prêmios estão mais altos, as franquias estão um pouco mais elevadas, e há sublimites para riscos como as inundações.”

Souza observa que a Tokio Marine hoje pede franquias mais altas que no passado, mas, por outro lado, as apólices possuem poucas exclusões. Um exemplo é o tema das microfissuras em painéis solares, que é uma exclusão padrão também em outros países. Souza diz ainda que a empresa procura ajudar seus clientes a avaliar suas exposições de risco. A Tokio Marine possui, inclusive, uma empresa especializada em gerência de risco de que os clientes podem fazer uso para realizar essa tarefa.

“Quando fazemos uma cotação, também oferecemos ao segurado que contrate esse gerenciamento a um preço subsidiado,” afirma.

“A qualidade da gerência de riscos melhorou nos últimos anos na medida em que as empresas que constroem os projetos e seus sponsors acumularam experiência,” afirma Hernandez. “O desenvolvimento da experiência em gerência de riscos também foi ajudado pela participação de bancos e investidores internacionais no financiamento dos projetos. Eles exigem padrões mais elevados de diligência devida.”

Ao fim e ao cabo, no entanto, se pode dizer que os compradores de seguros brasileiros encontram condições mais favoráveis que em outros países na hora de estruturar seus programas.

“Na comparação com outros mercados, o Brasil, que possui uma riqueza de recursos naturais como a luz solar e o vento, mas não tem uma exposição pesada a catástrofes naturais, ainda se beneficia de termos favoráveis,” diz Hegelbach. “No começo, a competição no segmento era feroz, o que resultou em termos e condições geralmente favoráveis para os clientes. Agora o mercado de se endureceu um pouco devido ao histórico de sinistros no mercado local e a restrições de capacidade para as energias renováveis no mercado internacional. Ainda assim, os contratos de resseguros aumentaram a capacidade disponível, e muitos riscos podem ser colocados no mercado local através de cosseguros.”

O potencial do setor está levando seguradoras a lançar novos produtos. Por exemplo, a Newe Seguros introduziu uma cobertura parecida ao seguro garantia que é dedicada aos projetos de renováveis. O produto garante um retorno mínimo aos investidores, reduzindo sua exposição a riscos ligados à conectividade dos projetos à complexa rede elétrica local.

“Nosso produto visa garantir para o investidor que o consumidor final da energia vai pagar a conta. Hoje o grande problema que a gente percebe aqui é que o investidor, principalmente de fora do país, não tem segurança de que vai ter o retorno desse investimento,” diz Átila Santos, superintendente de Linhas Financeiras na Newe Seguros.

A Newe também está introduzindo uma cobertura paramétrica para grandes empresas que compram energia fotovoltaica no mercado livre e que assegura que elas serão capazes de comprar eletricidade de outras fontes, caso os níveis de luz solar sejam insuficientes para que seus provedores entreguem as quantidades de energia contratadas.

Novas soluções de seguros, incluindo coberturas estruturadas sob medida para determinados projetos, tendem a se tornar mais comuns na medida em que os subscritores se adaptam a mudanças promovidas pela Susep que lhes dão maior liberdade para elaborar clausulados.

“Tem havido alguma flexibilidade, do ponto regulatório, e as seguradoras e corretoras têm sido capazes de adaptar clausulados de modo a oferecer apólices específicas para o setor de renováveis,” afirma Hernandez. “Ainda não chegamos ao final deste caminho, porém, e há muito o que avançar. É um processo contínuo, e já temos visto algo de inovação em áreas como as coberturas paramétricas e CBI (Contingent business interruption).”

Fonte: Insider Engage

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