Nova parceria vai mapear Sistemas Agroflorestais e cultivos perenes na Amazônia
Estabelecer um serviço de mapeamento dos Sistemas Agroflorestais e da agricultura perene no estado do Pará é o que busca a parceria que a Embrapa Amazônia Oriental acaba de firmar com o programa Servir-Amazônia. O programa reúne tecnologia geoespacial de ponta que será aplicada na região para apoiar a tomada de decisão por parte de prefeituras, instituições e comunidades locais.
Com o uso de informações satelitais e geotecnologias, aliadas à validação de campo, será possível estabelecer padrões de cobertura da terra para a geração de mapas-pilotos que mostrem a presença de SAFs e do cultivo de cacau, dendê, açaí e citros em diferentes regiões do Pará.
O trabalho, incialmente previsto para dois anos, vai ser realizado em nove municípios paraenses, e deverá gerar produtos e serviços de forma permanente na região a partir do uso de imagens públicas e da capacitação de equipes locais.
ProduçãoO estado do Pará é o maior produtor de cacau, dendê e açaí do Brasil. Em 2019, segundo dados do IBGE (Produção Agrícola Municipal), o estado produziu 2 milhões 543 mil toneladas de cachos de dendê, 129 mil toneladas de amêndoas de cacau e 1 milhão e 400 mil toneladas de frutos de açaí. Em relação à produção nacional, o estado é responsável por 98% do dendê, 49% do cacau e 95% do açaí produzido no país. |
O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri, explica que o propósito do trabalho é preencher lacunas de informação e aprimorar os sistemas de monitoramento da cobertura e uso da terra na Amazônia em andamento, como o Terraclass e o MapCacau, iniciativas lideradas pela Embrapa na região amazônica.
“Temos dificuldade em mapear o cacau, que muitas vezes se confunde com uma capoeira (vegetação secundária)”, exemplifica. Além disso, esse cultivo é feito geralmente em baixo de fragmentos florestais ou dentro de sistemas. “E os sensores ópticos em uso atualmente não detalham essa diferença. Então, praticamente tudo é feito no campo”, explica.
A ideia, de acordo com o gestor, é combinar as imagens de sensores mais precisos a algumas validações de campo para desenvolver algoritmos de classificação da cobertura e dessa forma automatizar o mapeamento. “O trabalho gera informações que contribuem diretamente para a elaboração de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento agrícola da região, como zoneamentos de risco climático, ecológico-econômico; ambiental e outros”, afirma Venturieri.
Fotografias mais precisas
A coordenadora técnica do trabalho, Naiara Pinto, ecóloga e membro da Divisão Radar do Jet Propulsion Laboratory (Nasa), em Pasadena (EUA), explica que o trabalho de mapeamento vai utilizar imagens públicas de satélites da Nasa e de agências espaciais europeias e japonesa.
O diferencial, segundo a especialista, é o uso de sensores ativos para caracterizar a interface entre a agricultura e a floresta. Esses sensores produzem seu próprio sinal – ao contrário dos sensores passivos que dependem da radiação solar – e por isso têm mais penetração sob a superfície da terra e assim conseguem fotografar com maior precisão a cobertura do solo.
A ecóloga de paisagem esclarece que os sensores ativos não são novidade para fotografar a floresta, mas “só agora será possível operacionalizar o serviço e fazer a classificação da cobertura da terra de forma sistemática na região”, afirma. Com as fotografias mais precisas e a conexão com os dados do campo, será possível ajustar o sinal do satélite para a presença dos SAFs e cultivos perenes, a partir do formato do dossel e de outras informações específicas.“É dessa forma que será possível implementar um modelo de classificação de cobertura da terra na região estudada”, complementa.
Co-desenvolvimento de produtos e serviços
O desenvolvimento conjunto e colaborativo do serviço de mapeamento dos SAFs e culturas perenes no Pará por especialistas locais e externos é o fundamento do programa Servir-Amazônia. José Leandro Fernandes, que é o líder de Engajamento do Usuário do programa, explica que o trabalho se dá a partir de dois focos: o co-desenvolvimento de serviços de tecnologia; e o atendimento sob demanda.
“Existe todo um processo de trazer o usuário para dentro do serviço. A ideia é garantir a capacidade interna local de responder aos desafios da região”, conta Fernandes.
O especialista explica que a partir da parceria, será possível ter informações geoespaciais mais sofisticadas no nível da prefeitura e da comunidade, que possam justificar argumentos e a tomada de decisão local, assim como fortalecer os instrumentos de monitoramento ambiental.
Fonte: Embrapa
Publicado em: Agro&Negócios