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Manchetes do Mercado

5 de julho de 2023

Maior acesso a inovações adequadas para a agricultura familiar faz parte de demandas apresentadas em workshop

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Apesar da importância econômica e social da agricultura familiar, esses agricultores tem pouquíssimo acesso aos avanços tecnológicos, sobretudo, acesso a máquinas e equipamentos agrícolas que possam facilitar seu trabalho. Essa dificuldade foi abordada no IV Workshop Pesquisa e Agricultura Familiar e II Mostra de Máquinas, Inventos e Inovações para a Agricultura Familiar, em que participaram agricultores, técnicos, representantes de instituições e pesquisadores envolvidos com o tema.

Ao final do evento, os participantes aprovaram uma carta aberta “Em defesa do fomento de uma política de inovação adequada à agricultura familiar”. No documento se reivindica políticas públicas de desenvolvimento e de financiamento para maquinários adequados às diferentes realidades da agricultura familiar.

Na carta aberta defende-se a retomada de investimentos e o fortalecimento do Sistema Nacional de Pesquisa e Inovação da Agricultura, com valorização da agricultura familiar e sua sociobiodiversidade, e se destaca que “é fundamental a criação de linhas de financiamento específicas para projetos que promovam e dialoguem com os conhecimentos locais, gerados a partir de seus diferentes agroecossistemas, materializados em equipamentos e formas de fazer existentes em cada território”.

Diversas informações sobre processos, tecnologias e equipamentos que vêm sendo feitos como alternativas para facilitar o trabalho rural, melhorar a produção, evitar desperdício, assim como proporcionar melhor qualidade de vida para trabalhadores envolvidos na agricultura familiar, foram apresentadas e discutidas durante este IV Workshop Pesquisa e Agricultura Familiar, que ocorreu nos dias 28, 29 e 30 de junho, em Manaus, com palestras, oficinas e exposição de máquinas, ferramentas e equipamentos.

O trabalho no campo, principalmente para os que têm menor renda e dificuldade de acesso à equipamentos e ferramentas, é caracterizado por muito esforço em serviços braçais, o que se agrava com as dificuldades de mão de obra, o envelhecimento dos trabalhadores e o êxodo rural. Diante dessa situação, a proposta do evento foi mostrar iniciativas em que se desenvolvem soluções com adaptação de ferramentas e equipamentos que reduzam o esforço e otimizem o tempo dispensado às atividades de trabalho na produção de alimentos.

Algumas das iniciativas de máquinas e equipamentos para agricultura familiar são elaboradas, geralmente, partindo das dificuldades de um grupo de agricultores ou comunidades, com apoio de pesquisadores e técnicos, resultando em soluções que conseguem atender à demanda inicial, mas ficam restritos a pequenos grupos. Uma das propostas do evento foi fomentar essa troca de informações, mostrar iniciativas em tecnologias nesse sentido, e estimular que os agricultores familiares tenham acesso ao que já existe assim como possam produzir também suas soluções adaptadas visando reduzir a penosidade do trabalho.

“Um dos desafios colocados nesse workshop é o de melhorar o processo de trabalho agrícola através de equipamentos acessíveis e que possam ser construídas por eles mesmos”, informa o coordenador do workshop, pesquisador Lindomar Silva, da Embrapa Amazônia Ocidental.

Além das apresentações no workshop, foram feitas ações práticas demonstrativas. Por exemplo, uma das atividades foi a montagem de uma fossa séptica biodigestora, tecnologia que representa uma alternativa diante da falta de saneamento básico em regiões rurais, pois trata o esgoto do vaso sanitário, é de fácil instalação e custo acessível e produz efluente que pode ser utilizado no solo como fertilizante em plantas perenes, e evita a contaminação do solo e da água. Com isso, evita a proliferação de doenças e contribui para a saúde dos moradores rurais.

O pesquisador Wilson Tadeu Lopes da Silva, da Embrapa Instrumentação (São Paulo), ministrou a oficina, e o material pré-montado foi doado para uma das comunidades representadas no evento, a comunidade indígena Gavião, localizada na região do Tarumã-açú.

Outra tecnologia demonstrada durante o evento e que também ganhou extensão para ser levada a comunidades próximas a Manaus, após o evento, foi o “Sisteminha Embrapa: produção sustentável e integrada de alimentos”. O pesquisador Luiz Carlos Guilherme, da Embrapa Cocais (Maranhão) ministrou a oficina durante o evento e nos dias 3 e 4 de julho estão sendo realizados cursos com comunidades rurais sobre essa tecnologia, respectivamente, nos municípios de Manacapuru e em Rio Preto da Eva.

O “Sisteminha Embrapa” é uma solução tecnológica de baixo custo e fácil adoção, apropriada para pequenos espaços, em áreas urbanas e rurais, permitindo produzir animais (peixe, frango), frutas, hortaliças, entre outras opções de produtos agropecuários, com objetivo de garantir a alimentação básica às famílias que adotam a tecnologia, assim como geração de renda com o excedente.

Foi realizada ainda a oficina “Construindo Tecnologias Sustentáveis” ministrada por equipe do Instituto de Tecnologias Apropriadas para a Sustentabilidade (Invento), trabalhando princípios de criatividade, co-criação e autonomia. O instituto tem experiência em trabalhos na África e América Latina com oficinas de cocriação, em que as comunidades apresentam seus desafios tecnológicos e a equipe ajuda a desenvolver capacidades e habilidades auxiliando a comunidade a inventar equipamentos para plantio, colheita, beneficiamento de produtos e acesso a energia e água, com tecnologias de baixo custo.

O IV Workshop Pesquisa e Agricultura Familiar e II Mostra de Máquinas, Inventos e Inovações para a Agricultura Familiar foi realizado pela Embrapa Amazônia Ocidental, com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam). Contou com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), Movimentos dos Pequenos Agricultores (MPA), da Rede de Recursos Humanos e Inteligências para a Sustentabilidade da Amazônia (Rede Rhisa).

Confira trecho da carta aberta, lançada no IV Workshop Pesquisa e Agricultura Familiar e na II Mostra de Máquinas, Inventos e Inovações para a Agricultura Familiar.

“ A soberania alimentar está intrinsecamente vinculada à agricultura familiar, que segundo a FAO/ONU é a forma predominante de agricultura no mundo, responsável pela produção de mais de 80% dos alimentos. No Brasil, de acordo com o Censo Agropecuário de 2017, a agricultura familiar foi responsável por 23% de toda a produção agropecuária, empregando mais de 10 milhões de pessoas, equivalendo a 67% de todo o pessoal ocupado no setor. Dados do último Censo Agropecuário apontam que menos de 2% dos estabelecimentos da agricultura familiar possuem tratores e menos de 0,3% utilizam algum equipamento para colheita. No computo geral, dos 77% de estabelecimentos agropecuários que se caracterizam como da agricultura familiar, apenas 18% contam com algum tipo de maquinário agrícola. Portanto, apesar da sua importância econômica e social, a agricultura familiar tem pouquíssimo acesso aos avanços tecnológicos, sobretudo, relacionados a máquinas e equipamentos agrícolas. Ademais, é necessário salientar a inexistência de políticas públicas, tanto de desenvolvimento quanto de financiamento de maquinário adequado às diferentes realidades da agricultura familiar.

A ampliação do acesso às máquinas e equipamentos contribui tanto para o aumento da produtividade, quanto para a redução da penosidade do trabalho, questão agravada pelo envelhecimento e dificuldade de sucessão nas atividades agropecuárias. Considerando a importância da Agricultura Familiar para toda a sociedade, ressaltamos a centralidade do Estado brasileiro, por meio de suas instituições de pesquisa e inovação, na promoção de arranjos inovadores de desenvolvimento e produção de máquinas e equipamentos específicos para as diferentes realidades rurais existentes. Destaca-se que já existem agricultores, ferreiros, marceneiros, metalúrgicos que desenvolvem soluções próprias para a agropecuária e agroindústria familiar, e que estes atores precisam de apoio do Estado, seja por meio da parceria com as organizações de pesquisa públicas quanto pela criação de linhas de crédito específicas para a aquisição destes equipamentos. Portanto, é fundamental que o Estado promova arranjos locais de criação e produção de máquinas e equipamentos, de forma a promover a diversificação econômica das diferentes realidades rurais existentes no Brasil.”

Fonte: Embrapa

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