Influencers: Agricultores na China vendem produção em lives e lucram mais
O fenômeno do live commerce, em que vendedores e influenciadores digitais apresentam produtos ao vivo em transmissões na internet, está transformando o modo de vida e as perspectivas de renda até nas comunidades mais remotas da China agrícola. Na última semana, período em que o país viveu o prolongado feriado de ano-novo lunar, fábricas e escritórios estiveram fechados em quase todo o país, mas muitas comunidades agrícolas, justamente aquelas mais habituadas a paralisar o trabalho para viver as festividades, aproveitaram a oportunidade para trabalhar mais. Desta vez, não na lida com a terra, mas para fazerem transmissões pela internet.
Com muitos consumidores em casa e com tempo livre, a ocasião foi explorada por agricultores para fazer “lives” apresentando seus roçados, os métodos de escavação para tirar ginseng da terra, como se colhe cogumelos ou mesmo os cuidados para evitar pragas sem o uso de defensivos em plantações de legumes e verduras. O motivo das lives era um só: aumentar as vendas para os consumidores na cidade.
O método pode ser considerado uma “revolução” para agricultores pobres que, por décadas, mantiveram uma renda mensal equivalente a pouco mais de R$ 1 mil.
Ao explorar as ferramentas de live commerce, produtores de legumes e verduras conseguem fechar vendas diretamente para os consumidores nas cidades, aproveitando-se da excepcional logística desenvolvida na China.
Na prática, isto retira intermediários da cadeia produtiva que faz o alimento sair da roça e chegar à mesa das famílias em uma grande cidade e, consequentemente, eleva a renda dos camponeses.
O advento do live commerce, prevê a consultoria iResearch, deve responder por 20% de todas as vendas digitais na China neste ano de 2022, um recorde em todo o mundo.
No país, aponta a consultoria, 1,3 milhão de pessoas declaram oficialmente ter como profissão ser um “live commerce streamer”.
As vendas por esta modalidade de comércio não acontecem apenas em sites de vendas, como o Taobao, do grupo Alibaba, mas cada vez mais em plataformas sociais, como Douyin (nome local do TikTok) e seu rival de vídeos curtos, o app Kwaishou.
Na China, o tema live commerce tornou-se tão relevante que muitas universidades abriram disciplinas em cursos como administração e economia para preparar os jovens estudantes para explorar tais ferramentas. Nas aulas, aprende-se sobre técnicas de iluminação, edição de vídeos, dicção, análise de tráfego e gatilhos de venda.
O advento fez crescer a pressão de políticos de pequenos vilarejos para que suas cidades sejam incluídas nos planos de Pequim para expansão do 5G, uma vez que melhor conectividade significa uma melhora substancial na renda dos moradores de uma comunidade agrícola.
Em muitas localidades, camponeses na faixa dos 20 anos se projetaram como celebridades e usam sua imagem jovial, forte e saudável para criar uma conexão emocional com os consumidores da cidade e, claro, aumentar a renda de suas famílias.
Um dos mais famosos “agroinfluencers” do país, chamado de Zhang Yi, usa a expressão “você pode não estar perto da natureza, como eu, mas seu corpo pode se alimentar dos mesmos nutrientes que eu” ao final de cada live. Um argumento de venda sob medida para milhões de consumidores que vivem em cidades poluídas e sob rotina estressante.
Fonte: UOL
Publicado em: Agro&Negócios, Internacional