FRIO POLAR E NEVE NO SUL DO BRASIL
A MetSul reitera que haverá uma poderosa incursão de ar polar afetando grande parte do Brasil e uma extensa área da América do Sul na segunda metade da semana. No Uruguai e no Rio Grande do Sul, a temperatura começa a cair acentuadamente a partir da quarta-feira, especialmente entre a tarde e a noite, com o domínio do ar gelado entre quinta e sábado. Nas demais áreas do Brasil, a queda da temperatura será sentida entre a quinta e a sexta-feira.
Os meteorologistas da MetSul enfatizam que vai se tratar de um episódio curto de frio, mas intenso e potencialmente histórico. E o que poderá fazer do evento de ar gelado histórico não serão mínimas excepcionalmente baixas ou geada intensa generalizada, como costuma ser a regra, afinal haverá nuvens, instabilidade e vento para impedir. O que traz a possibilidade de ser um evento marcante, a se confirmar, é a chance de neve em maior número de locais e com maior intensidade.
Não espere, assim, incursão intensa de ar frio e muito seco que traga mínimas extremas e geada generalizada, como é o comum e já vimos em junho, julho e no começo de agosto deste ano, mas de ar polar com umidade sob a presença do que se chama de baixa segregada (cut-off low), que gerará uma “bolha” de ar extremamente frio em altitude com precipitação sobre o Sul do Brasil, criando as condições ideais pra nevar.
O que se sabe pelos mais recentes dados? A tendência de nevar é altíssima! O drama de prognóstico segue sendo o quanto e onde. Os modelos numéricos computadorizados, e aqueles que utilizamos são quase todos os mesmos usados por profissionais meteorologistas para prognosticar furacões, tornados e nevascas nos Estados Unidos e em outras partes do mundo, pela nossa experiência têm dificuldades em projetar posicionamento e a intensidade de áreas de baixa pressão.
É o que estamos habituados a ver em ciclones e se vê agora neste extremamente difícil e complexo prognóstico de neve, o que muitas vezes se enxerga em projeções difíceis de neve em outros países. Tanto que nos Estados Unidos é comum os meteorologistas em televisão comunicarem as enormes discrepâncias de projeções de neve por modelos em suas regiões.
Vamos as nossas discrepâncias. E são enormes. Na saída da madrugada de hoje, o modelo europeu indicava um episódio de neve de proporções históricas, de como poucas se viu em décadas, que cobriria a Serra Gaúcha, os Aparados da Serra, os Planaltos Sul e Norte de Santa Catarina e o Meio-Oeste catarinense com uma quantidade impressionante de neve.
Já na saída do mesmíssimo modelo, que é reputado o de maior acerto mundialmente, o evento de neve teria muito menor dimensão e estaria mais limitado aos Planalto Sul e Norte de Santa Catarina. Nos mapas gerados com base nas saídas das 12Z (9h de Brasília) de hoje se vê estas diferenças enormes nos indicativos entre os modelos canadense (CMC), norte-americano (GFS) e alemão (Icon).
Veja os mesmos mapas agora com as projeções dos mesmos modelos em suas saídas das 12Z para as áreas em que tradicionalmente a neve é mais comum, ou seja, os Campos de Cima da Serra do Rio Grande do Sul e o Planalto Sul de Santa Catarina.
Os modelos indicam, no geral, possibilidade de neve nas áreas de maior altitude nos três estados do Sul, mas nenhum indicou hoje a possibilidade do fenômeno no estado de São Paulo.
Chama atenção que a maioria dos modelos não indica, mas o GFS dos Estados Unidos rodada após rodada tem indicado a possibilidade de nevar no Uruguai. Se não nevar em flocos, o que é muito raro no país, é provável que os uruguaios em distintos pontos do país ao menos testemunhem “agua nieve” (neve misturada à chuva), graupel (uma forma de neve granular) ou chuva congelada (forma de um granizo muito pequeno.
Enfatiza-se que modelos são ferramentas de prognóstico e não um produto final de previsão. Com base em tudo o que se tem analisado de dados e pela experiência de eventos passados durante os últimos 30 anos, nesta segunda-feira o nosso melhor entendimento na MetSul é que a maior chance de nevar é para o Planalto Sul Catarinense, Planalto Norte de Santa Catarina e Planalto de Palmas no Paraná, além dos Aparados da Serra e a Serra do Nordeste do Rio Grande do Sul. É muito factível, contudo, que ocasionalmente possa nevar em outras áreas com cotas de altitude mais baixas e com menor recorrência de neve.
Isso poderia incluir ocasionalmente o Sudoeste do Paraná, Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina, Noroeste gaúcho, Médio e Alto Uruguai, Planalto Médio e o Alto Jacuí, e segundo algumas projeções até o Centro do Rio Grande do Sul (áreas de Itaara e de Sobradinho), a fronteira com o Uruguai, a Serra do Sudeste e a região da Campanha. Se não nevar nestas áreas menos altas, pode ter chuva congelada e isoladamente neve granular, possibilidade que se estende à grande parte dos territórios gaúcho e catarinense, inclusive na Grande Porto Alegre.
Em outras partes da América do Sul, no Chile e Argentina, estes sistemas de baixa segregada, como o que teremos sobre o Sul do Brasil, quando acompanhados de ar polar, não raro trazem neve muito expressiva com grandes a enormes acumulações. Na área mais árida do continente, nevadas grandes no deserto do Atacama, no Norte do Chile, costumam ocorrer justamente quando há um sistema de baixa pressão segregado.
Como a massa de ar será por demais gelada, e modelos indicam temperatura de até 5ºC abaixo de zero em 850 hPa (nível de pressão correspondente a 1.500 metros de altitude), marca muito baixa e que somente se vê em incursões muito fortes de ar frio, é comum que o ar polar chegue com vento moderado a forte na forma de rajadas que vai trazer sensação térmica com valores muito baixos, negativos em muitas localidades. Quinta e sexta serão dias muito frios e com baixa sensação por efeito do vento.
Os mapas deste boletim e outros de neve e geada estão disponíveis a qualquer hora ao assinante na seção de mapas com até quatro atualizações diárias e ao longo da semana a MetSul oferecerá novos boletins detalhados e atualizados sobre o frio, geada e neve aqui em metsul.com.
Publicado em: Agro&Negócios