Artigo – Culturas de outono-inverno
Tanto a soja como o milho, graças aos trabalhos de melhoramento genético, tornaram-se mais eficientes na produção de grãos, em detrimento da parte vegetativa, ou seja, deixam poucos restos culturais após a colheita na superfície do solo. Do ponto de vista econômico, o cultivo do milho tem se tornado muito interessante, em função da crescente demanda tanto pelo mercado interno como externo. O milho é o principal componente da ração de aves, suínos e bovinos, além de ser matéria prima para a produção de etanol. Também é uma excelente alternativa para rotação de culturas. Isto já acontece. Apenas uma parte da área é plantada com milho. Aumentar a oferta de milho produzido no período de verão para atender à crescente demanda pode ser uma alternativa sobre o ponto de vista da sustentabilidade.
A adoção de boas práticas agropecuárias é considerada uma das estratégias mais viáveis de agregar resiliência ao sistema produtivo e diminuir a exposição aos riscos climáticos, possibilitando também reduzir as atuais lacunas de produção e produtividade. Quando pensamos na sustentabilidade do sistema, alguns aspectos não podem ser negligenciados, tais como: a rotação de cultura, numa mesma área, no mesmo período do ano; utilizar espécies diferentes, tanto na primavera-verão como outono-inverno; aportar material vegetal no sistema, tanto na superfície do solo como ao longo do perfil.
Na superfície o aporte se dá através da palhada produzida pela parte aérea e ao longo do perfil pelas raízes. As raízes são verdadeiras e eficientes subsoladores/escarificadores, sem movimentar o solo. Com o não revolvimento do solo e o aporte adequado de palha, o solo passa a ter um papel preponderante na mitigação de CO2, que é um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Dentro da perspectiva de diversificar os sistemas de produção, uma alternativa muito interessante é o cultivo das chamadas plantas de inverno; trigo e aveia, especialmente. Essas, como componentes de um sistema de produção, são importantes na geração de renda e podem contribuir para o aumento da produtividade da cultura de verão e para a redução dos custos de produção.
Cabe destacar que, o trigo é um dos únicos produtos agrícolas, que para atender ao consumo interno, o Brasil importa, anualmente, algo em torno de 50% do que consume. Diversos estudos desenvolvidos em diferentes regiões produtoras de grãos do Brasil, demonstram que o melhor manejo de plantas daninhas nas culturas de verão depende de como a área foi manejada no período de outono-inverno. Principalmente para as espécies de difícil controle como capim amargoso e buva, as plantas de outono/inverno têm um papel preponderante, facilitando sobremaneira o manejo dessas espécies. Assim, o cultivo de milho + braquiária, de trigo e de aveia se constituem em estratégia importante quando se pensa no manejo de plantas daninhas.
Diversas outras espécies podem ser cultivadas como plantas de cobertura no período outono-inverno, isoladas ou consorciadas, tais como as crotalárias, o guandu, o estilozantes, o milheto, o campim-sudão, o nabo forrageiro, dentre outras. Com isso tem-se redução dos custos de produção da cultura de verão, especialmente com menor uso de herbicidas e redução das populações de nematoides, além da melhoria dos atributos físicos, químicos e biológicos do solo. Várias são as alternativas quando se pensa em espécies para serem cultivadas no período de outono-inverno. Estudos recentes desenvolvidos pela Embrapa Suínos e Aves, por exemplo, indicam a possibilidade de se utilizar na ração de aves e suínos grãos de trigo e aveia, aumentando assim as possibilidades de uso das plantas de outono/inverno.
Essa alternativa representa mais uma possibilidade de geração de renda para o produtor rural quando ele opta pelo cultivo no período de outono-inverno, além da excelente oportunidade de diversificar o sistema de produção agrícola, atualmente muito focado no cultivo de soja-milho. Diversificar e intensificar os sistemas de produção é a grande saída para melhorar a produtividade física, o controle de plantas daninhas e nematoides, reduzindo assim os custos de produção e melhorando a rentabilidade. Sob todos os aspectos, o cultivo de plantas no outono-inverno, de forma planejada e organizada representa uma excelente alternativa para o agricultor da região central do Brasil.