Especialistas discutem soluções para desafios enfrentados pelo setor agropecuário na crise climática
Na manhã de 31 de janeiro, especialistas de diversos setores da indústria de seguros e resseguros se reuniram no Salão Nobre da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) para o Workshop Seguro Rural. O evento, organizado pelo Centro de Estudos do Agronegócio (FGV Agro), Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros (FGV IISR) e Instituto Clima e Sociedade (iCS), teve como objetivo debater a evolução da agenda do Seguro Rural, os impactos das mudanças climáticas na agricultura e a integração da gestão de riscos climáticos na agropecuária brasileira.
O pesquisador do FGV Agro, Guilherme Bastos, destacou a importância de manter a discussão sobre seguro rural constante, especialmente diante das mudanças climáticas. “Reunimos especialistas para aprofundar a análise dos riscos e oportunidades, buscando estruturar uma agenda que permita ao setor prosperar no Brasil”, afirmou Bastos na abertura do evento.
Maria Netto, Diretora Executiva do iCS, enfatizou que a agenda climática precisa ser uma prioridade. “Os eventos extremos vão continuar ocorrendo com maior frequência e intensidade. Isso exige que o setor de seguros desenvolva novos cenários de risco e estratégias para lidar com incertezas cada vez maiores”, disse Netto.
Eugenio Montoro, pesquisador do FGV IISR e professor da FGV EAESP, ressaltou a necessidade de deixar de lado questões políticas para focar em soluções concretas. “A parceria entre FGV IISR e FGV Agro visa fomentar discussão e reflexão sobre o tema”, afirmou Montoro. Também participaram do evento Glaucio Toyama, Presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg; Vitor Ozaki, Presidente da Câmara Temática de Gestão de Risco Agropecuário do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa); e Guilherme Campos, Secretário de Política Agrícola do Mapa.
Campos revelou que está sendo desenvolvida uma nova proposta para o seguro rural no Brasil. “Este evento é fundamental para reunirmos subsídios que nos permitam estruturar uma proposta moderna, alinhada ao próximo Plano Safra”, explicou o Secretário, destacando que o Mapa busca captar sugestões e necessidades do setor.
Estruturação do Seguro Agrícola no Brasil
O primeiro painel do evento analisou a estrutura do seguro agrícola no país, reunindo representantes da indústria, câmara temática e seguradoras.
Vitor Ozaki apresentou os grupos de trabalho da Câmara Temática de Gestão de Risco Agropecuário, que focam na política integrada de gestão de riscos, inovação tecnológica, integração entre crédito e seguro rural e melhorias no Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).
Glaucio Toyama, membro da Comissão de Seguro Rural da FenSeg, explicou que o seguro rural é uma ferramenta de política pública, operando pelo PSR com exposição a diversos riscos. Ele lembrou os impactos das secas de 2021 e 2022, que afetaram significativamente a produtividade dos produtores e a sinistralidade do setor. “Precisamos criar uma base de dados mais robusta para melhorar a precificação e a aderência dos produtos ao mercado”, enfatizou.
Toyama também alertou que a penetração dos seguros agrícolas no Brasil não ultrapassa 10%, valor baixo para o tamanho da agricultura nacional. Ele destacou a necessidade de personalizar os produtos conforme as características regionais e avançar na estruturação de um novo modelo de seguros e crédito.
Visão do Produtor Rural e Desafios do Seguro
Guilherme Rios, Assessor-Técnico em Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, apresentou um estudo do Instituto Pensar Agro, que identificou desafios enfrentados pelos produtores. Segundo ele, apenas 16% da área cultivável está segurada, um percentual insuficiente para um setor que representa 25% do PIB.
Os principais problemas apontados foram a falta de previsibilidade no orçamento do PSR, prêmios altos e cobertura inadequada. “Para muitos produtores, o custo do seguro supera a rentabilidade, tornando-o inacessível”, ressaltou Rios.
Base de Dados e Desenvolvimento do Seguro Agrícola
Para superar esses desafios, Rios defendeu a adoção de outras ferramentas de gestão de risco, como hedge, mercado de opções e seguro paramétrico. Ele também destacou a importância do Projeto de Lei 2951/2024, que busca fortalecer a base de dados para melhor desenvolvimento das políticas públicas.
Jairo Costa, Gerente de Seguros Latam da Syngenta, ressaltou que a indústria enxerga o seguro agrícola como um mitigador de risco essencial. “O seguro precisa ser mais aderente à realidade dos produtores, distribuindo melhor os riscos para reduzir os custos e ampliar o acesso”, explicou.
Seguro Florestal e Sustentabilidade
No segundo painel, Paulo Hora, Superintendente de Seguros Rurais e Resseguros da BrasilSeg, destacou a necessidade de ampliar a resiliência do setor através da transferência de riscos. “Sem um seguro adequado, os sistemas econômicos e sociais não conseguem se recuperar diante dos eventos extremos”, afirmou. Dados da SUSEP indicam um histórico de R$ 295 milhões em prêmios de seguro florestal desde 2006, com R$ 204 milhões em sinistros.
Impactos das Mudanças Climáticas
O terceiro painel abordou os riscos climáticos na agricultura. Eduardo Assad, pesquisador do FGV Agro, apresentou estudos que demonstram o aumento da seca e o impacto na produtividade do milho safrinha. “O seguro precisa estar atrelado à tecnologia para reduzir riscos e aumentar produtividade”, afirmou.
Eduardo Monteiro, da Embrapa Agricultura Digital, e Jean Ometto, do INPE, destacaram o desenvolvimento de ferramentas para avaliar riscos climáticos e planejar adaptações.
Por fim, Paulo Artaxo, professor da USP, alertou sobre o aquecimento global e suas consequências para a agricultura. “As políticas de redução de emissões ainda são insuficientes, e os impactos no setor continuarão a crescer”, concluiu.
Fonte: FGV