Soja: Apesar de demanda mais contida nesta temporada, relação global de oferta x demanda segue desequilibrada
O USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) informou uma nova venda de 132 mil toneladas de soja para a China nesta quinta-feira (14). O volume é todo da safra 2021/22. E as vendas feitas no mesmo dia, para o mesmo destino e com volume igual ou superior a 100 mil toneladas devem sempre ser informadas ao departamento americano.
A China tem vindo ao mercado de forma mais cadenciada nesta temporada, fazendo compras mais escalonadas e buscando encontrar as oportunidades que o mercado tem a oferecer, já que os preços estão em patamares muito altos, especialmente para o produto disponível. Assim, os números de suas importações neste ano mostram claramente este movimento.
De acordo com os da Administração Geral das Alfândegas da China, o país importou “apenas” 6,35 milhões de toneladas de soja em fevereiro, 18% menos do que em março de 2021. No primeiro trimestre de 2022, o país recebeu pouco mais de 20 milhões de toneladas da oleaginosa, contra mais de 21 milhões de toneladas chegaram à nação no mesmo período do ano anterior.
“É importante dizer que hoje a China passa por um processo de desaceleração da demanda. Essa desaceleração já era esperada dados os preços nos patamares que têm sido atingidos. Preços altos forçam um recuo da demanda e isso está acontecendo”, explica o diretor da Pátria Agronegócios, Cristiano Palavro.
E as últimas estimativas do USDA, em seus boletins mensais de oferta e demanda, já se distanciam dos números iniciais – próximos de 100 milhões de toneladas – para algo na casa de 91 milhões de toneladas de soja importada na temporada 2021/22. “Com as elevação de preços, a política da China de compras mais da mão para a boca, mostra esse recuo da demanda (…) Se há um fator a se preocupar com quedas mais robustas de preços, certamente, o fator demanda é o principal deles”, acredita Palavro.
O diretor da Pátria explica também que mesmo com essa demanda mais contida – também refletindo a política de tolerância zero contra o Covid-19 neste que é um dos principais surtos desde o início da pandemia -, o gigante asiático ainda precisa vir a mercado para garantir mais volumes, a partir de junho, para estar adequadamente abastecida. Ainda assim, vão buscar os melhores momentos do mercado para fazer essas compras.
No entanto, o executivo lembra ainda que “essa estratégia pode dar muito errado lá na frente caso haja algum problema com a nova safra americana e os preços voltem a subir na Bolsa de Chicago”.
E essas aquisições que ainda precisam ser feitas deverão ser pulverizadas entre seus principais fornecedores, principalmente Brasil e Estados Unidos. A atenção dos compradores chineses, todavia, deverá ser maior pelo produto brasileiro uma vez que aqui é, ainda, onde há o maior volume de soja disponível, ao menos até que a nova safra americana comece a chegar ao mercado, de outubro em diante.
“Com preços mais altos ou mais baixos, os chineses vão ter, que buscar o mercado brasileiro daqui pra frente”, afirma Cristiano Palavro.
Dados sobre a demanda interna da China também chamam atenção e dão sinais importantes sobre as importações. “Fábricas na China reportaram nova queda no esmagamento na semana passada. A taxa de ocupação ficou perto de 42%. Fábricas em Shandong pararam essa semana por falta de farelo de soja. A falta de caminhões está sendo um grande problema”, explica o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities.
Embora a demada chinesa por soja esteja, de fato, mais contida – com o especialista estimando as compras do país próximas a 88 milhões de toneladas -, a relação global entre a oferta e a demanda ainda não se alivia, ainda de acordo com Vanin.
Os cálculos da consultoria mostram que as importações da nação asiática deverão concluir a temporada com uma redução de cerca de 10 milhões de toneladas e as demais, de 3 a 4 milhões. Assim, no total, a demanda pode apresentar uma baixa de 14 milhões de toneladas. Por outro lado, somente na América do Sul, a diminuição de oferta foi de expressivos 34 milhões de toneladas. Agora, a responsabilidade maior segue sobre os ombros da nova safra dos Estados Unidos.
“O primeiro passo para a normalização do balanço já foi dado, o aumento da área americana para 2022-23. No entanto, a safra ainda precisa ser plantada e colhida. Os mapas do NOAA mostram um clima complicado para julho e agosto. O padrão é igual do ano passado”, diz o analista.
Na sequência das preocupações com a temporada 2022/23 dos Estados Unidos, estão na fila as angústias que já têm sido sentidas pelos produtores brasileiros.
“Não podemos esquecer que o Brasil ainda precisa comprar muito fertilizante para safra 2022-23, o que está bem difícil. Brokers de fertilizantes comentam que o Brasil comprou 100 mil toneladas de KCl da Rússia, produto que vai chegar aqui em maio. A janela está se fechando rapidamente. Sem dúvida, apesar de toda destruição de demanda, a oferta vai continuar sendo o principal driver do mercado da soja”, complementa Vanin.
Fonte: Notícias Agrícolas
Publicado em: Agro&Negócios