Fertilizantes/EUA: Com alta dos custos, agricultores ajustam planos de plantio
Os preços de fertilizantes mais do que dobraram ao longo do último ano, frustrando os agricultores dos Estados Unidos, que agora estão ajustando planos de plantio e alertando sobre uma possível alta dos preços dos alimentos. A escassez global de ingredientes químicos usados na fabricação de fertilizantes fez os preços do insumo dispararem. Os custos crescentes estão levando alguns agricultores a optar por culturas menos intensivas em fertilizantes, como a soja. Já outros disseram que pretendem reduzir o uso geral do insumo, o que pode resultar em safras futuras menores.
A menor produção de grãos pode se traduzir em preços mais altos de commodities agrícolas como o milho, disseram analistas e produtores. Eles acrescentaram que os custos mais altos dessas commodities inflariam ainda mais os preços de alimentos básicos, como cereais e óleo de cozinha, assim como os preços de carnes.
Sean Elliot, um produtor em Iroquois County, Illinois, disse que planeja cultivar mais soja em 2022, em vez de apostar em suas lavouras normais de milho com menos fertilizantes nitrogenados.
Os fertilizantes costumam estar entre as maiores despesas dos produtores, e os preços mais altos ameaçam o que tem sido um ano excepcional para muitos agricultores. O lucro líquido do setor agropecuário dos EUA deve somar US$ 116,8 bilhões em 2021, um aumento de 23,2% ante o resultado de 2020, de acordo com a mais recente projeção do Serviço de Pesquisa Econômica do Departamento de Agricultura do país (USDA). Caso se confirme, o lucro será o maior desde 2013.
Os futuros do milho fecharam o pregão desta quarta-feira em US$ 5,8575 por bushel, com a soja em US $ 12,6525 por bushel. Em igual época do ano passado, os preços do milho estavam em cerca de US$ 4,25 o bushel, enquanto a soja estava em aproximadamente US$ 11,65.
O aumento nos custos dos fertilizantes se deve em parte aos preços elevados do gás natural, um ingrediente-chave para fertilizantes nitrogenados. Além disso, fortes tempestades nos EUA afetaram fábricas de fertilizantes, e a China neste verão (do Hemisfério Norte) proibiu as exportações de fosfato.
O preço dos fertilizantes fosfatados está entre cerca de US$ 830 e US$ 920 a tonelada, ante US$ 450 a US$ 500 a tonelada no ano passado, de acordo com a empresa de pesquisa agrícola DTN. A amônia anidra, que ajuda a converter o nitrogênio em uma forma utilizável para as plantas, está avaliada em mais de US$ 1.300 a tonelada, alta de 18% no último mês e um recorde histórico, disse a DTN. Outros fertilizantes, como potássio e uréia, estão custando mais que o dobro do que custavam no ano passado, de acordo com a DTN.
John Dittrich, que cultiva aproximadamente 1.600 hectares de milho e soja perto de Tilden, Nebraska, disse que está pagando mais do que o triplo por fertilizante nitrogenado em comparação com o ano passado.
Os custos mais altos de fertilizantes podem reduzir a produção de milho e outros grãos e alimentar a inflação contínua dos preços dos alimentos. “O alto preço do milho contribuirá para a alta dos preços dos alimentos no futuro”, disse o presidente da AgResource Dan Basse.
Alguns agricultores acusam as empresas de fertilizantes de elevar artificialmente os preços. A Family Farm Action Alliance, um grupo de mais de 6 mil agricultores e membros rurais, pediu na semana passada que o Departamento de Justiça investigasse uma possível manipulação de mercado por empresas de fertilizantes. O grupo alega que as companhias elevaram os preços depois de verem o aumento dos preços de grãos e da renda dos agricultores.
As empresas de fertilizantes rejeitam as acusações, e atribuem a alta dos preços às exportações reduzidas, aos problemas de produção devido a fenômenos climáticos e à forte demanda global por nutrientes agrícolas. A dinâmica global de oferta e demanda direciona os preços dos fertilizantes, disse Ben Pratt, vice-presidente sênior de governo e relações públicas da Mosaic, uma das maiores fabricantes mundiais de fertilizantes.
“Estes não são negócios em que você pode abrir e fechar a torneira”, disse Richard Reavey, porta-voz da empresa de fertilizantes Nutrien. Ele disse que a empresa planeja aumentar sua produção em 2022. “Todos estão preocupados com a posição em que estamos globalmente com estoques”, disse.
O aumento dos preços está ajudando a aumentar os lucros das empresas de fertilizantes. A Mosaic reportou lucro de US$ 371,9 milhões nos três meses encerrados em 30 de setembro, revertendo perdas registradas em igual período dos dois anos anteriores. A Nutrien obteve lucro de US$ 726 milhões em seu último trimestre, em comparação com um prejuízo em 2020 e um lucro menor em 2019. A CF Industries disse que elevou parte de sua previsão financeira para 2021 em meio a uma maior demanda e preços em alta.
Kenneth Zuckerberg, analista de grãos e suprimentos agrícolas do CoBank, disse que muitos agricultores estão presos a planos de plantio para o próximo ano, e os preços atuais ainda podem tornar o milho mais lucrativo do que a soja, mesmo com despesas mais altas com fertilizantes.
Mark McHargue, presidente do Nebraska Farm Bureau, disse que planeja aplicar o mínimo recomendado em suas lavouras de milho no próximo ano. Ele acredita que outros produtores tomarão decisões semelhantes, principalmente enquanto os preços do milho estiverem altos. “Enquanto houver valor, eles não podem mudar para a soja”, disse. Fonte: Dow Jones Newswires.
Fonte: Broadcast Agro
Publicado em: Agro&Negócios, Internacional