Grãos: RTRS cria padrão de certificação responsável para milho e amplia critérios para cadeia de soja
Em resposta à demanda de grandes consumidores de milho interessados em garantir a procedência de suas matérias-primas, a Associação de Soja Responsável (RTRS, na sigla em inglês), organização global formada pelos principais representantes da cadeia da soja, lançou ontem (7) o padrão RTRS para a produção de milho responsável, a exemplo do que vigora para a cadeia de soja desde de 2010. A ideia é que produtores com certificação RTRS para a soja obtenham reconhecimento também para sua produção de milho, cumprindo, além dos mais de 100 requisitos estabelecidos para a oleaginosa, outros 14 critérios adicionais para o cereal.
Em entrevista, o consultor externo da RTRS no Brasil, Cid Sanches, revelou que a criação do padrão para milho foi motivada pelo interesse de empresas que já compram soja certificada e pediam o mesmo para o milho. “As companhias que já são membros da RTRS e usam milho em seus produtos nos pediram um padrão responsável para o cereal. E outras empresas também solicitaram”, lembra.
A certificação da produção de milho será opcional para o produtor de soja certificada, segundo a RTRS. Para aqueles que buscarem o selo, serão verificadas questões relacionadas ao manejo de híbridos, uso de defensivos e prevenção de incêndios, entre outras, de acordo com o consultor. “Tomar os devidos cuidados para prevenir incêndios diz mais respeito ao milho, porque depois da colheita é que vem o período seco. A soja é colhida em uma época mais chuvosa”, explicou.
No caso dos cuidados com variedades híbridas, a preocupação é evitar a contaminação de plantações com variedades diferentes, o que poderia levar a uma perda de eficácia das tecnologias dos híbridos. “No Brasil, o produtor tem de seguir as recomendações do fabricante. Alguns países têm leis específicas sobre isso”, explicou o consultor.
A julgar por conversas com empresas compradoras e produtores certificados, há expectativa de uma forte procura pela certificação responsável para o milho, segundo Sanches. “Acredito que podemos chegar facilmente a 60% da área de soja certificada no Brasil, que hoje é de cerca de 1 milhão de hectares, ou seja, 600 mil a até 700 mil hectares de milho certificados”, disse. Das 236 fazendas de soja certificadas conforme o padrão RTRS, entre 150 e 180 podem vir a buscar também a certificação do milho, estima o consultor. O volume certificado deve passar de 3 milhões de toneladas de milho no próximo ano.
Tradings de grãos e empresas de alimentos interessadas em comprar milho certificado também precisarão se certificar, tal qual determinado para a cadeia de soja. O lançamento dos padrões é válido para outros países com produtores já certificados em soja, como Argentina, Paraguai, Uruguai, China e Índia.
Soja – Para a cadeia da soja, a RTRS está incorporando vários novos critérios de certificação e adotando um novo termo, “Padrão de Produção de Soja Responsável V4.0”, que amplia o protocolo anterior. O alicerce segue o mesmo: cumprimento legal e boas práticas comerciais, condições de trabalho responsável, bom relacionamento com as comunidades, responsabilidade ambiental e boas práticas agrícolas. A partir de agora, no entanto, produtores terão de atender também ao Código de Boas Práticas da Iseal – associação global presente em cem países que apoia sistemas de sustentabilidade e avalia padrões e auditorias. A RTRS se tornou membro da Comunidade Iseal 2020.
Uma das mudanças trazidas pela aliança é que a partir de agora as fazendas certificadas deverão comprovar que estão melhorando suas práticas ao longo do tempo por meio de indicadores, por exemplo, de emissões de carbono e quantidade de defensivos agrícolas aplicada. “Faremos o acompanhamento da evolução de todas as fazendas. Até então, essa análise era por amostra”, explica o consultor.
Produtores rurais já certificados e outros que buscarem a certificação daqui por diante terão de apresentar, além disso, sua política para combater suborno, incluindo eventuais práticas por funcionários da propriedade. A questão atende a regras da Accountability Framework initiative (AFi), iniciativa voltada a promover princípios éticos nas cadeias de alimentos. A RTRS está reforçando, ainda, seu alinhamento ao AFi em relação a desmatamento, não conversão de terras naturais, direitos humanos, em particular quanto às comunidades indígenas, boas práticas agrícolas referentes à rotação de cultivos e plantio direto.
A questão de gênero também é abordada no novo padrão de certificação de soja, de modo a se alinhar aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Produtores e empresas terão de buscar equilíbrio entre o número de funcionários homens e mulheres, garantir a segurança para as mulheres que trabalham no campo, prever licença-maternidade e outros pontos.
O Padrão de Produção de Soja Responsável V4.0 começa a vigorar a partir de dezembro para novas certificações. Produtores que já possuem o selo RTRS terão um ano para implementar as novas exigências. Fundada em 2006, a RTRS é uma organização global multissetorial formada pelos principais representantes da cadeia da soja, como produtores, indústria, comércio, finanças e a sociedade civil. Conta hoje com mais de 180 membros dos países do mundo inteiro.
Fonte: Broadcast Agro
Publicado em: Agro&Negócios