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Manchetes do Mercado

11 de outubro de 2021

Obrigada Solange Vieira! O consumidor de seguros agradece

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Mais uma mais o mercado segurador do Brasil, que há décadas tenta avançar em vendas e conquistar os consumidores, está refém da política. O Ministério da Economia anunciou a troca do comando da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que regula o setor de seguros do país. O nome do substituto ainda não foi divulgado, pois depende de aprovação de um partido político, o Centrão. Enquanto isso, o diretor técnico Raphael Schere assume interinamente.

O indicado por parte do setor de seguros é Alexandre Camillo, que deixa o comando do Sindicato dos Corretores de São Paulo — o maior da categoria que conta com algo próximo a 100 mil profissionais registrados — em dezembro. Seus planos envolviam se dedicar a sua própria corretora e também alçar voos políticos em 2022, se candidatando novamente. Em 2018, ele se candidatou a deputado estadual, pelo Partido Social Democrático. Mas não se elegeu com seus 21 mil votos. Um deles, meu. Mas assumir a Susep será passar pelo mesmo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, passa agora. Opinião publica acredita que tudo que ele fez foi em benefício próprio. Seria um tiroteio talvez pior do que tem sido com Solange.

Importante ter pessoas que entendam de seguros na política. Pois seguro é algo complexo. Armando Vergilio e seu filho, o deputado Lucas Vergílio, ajudam a promover a cultura de seguros no meio político. E a política aliada ao aspecto técnico pode fazer o setor de seguros a chegar aos tão almejados 8% de participação do PIB. Mas se não for bem regulado, pode cair num limbo, como as associações de proteção ou mesmo das garantias fiduciárias.

Recentemente vimos os danos que um setor não regulado pode causar. Poder ser um alvo para a lavagem de dinheiro. Seria fácil afirmar que um um incêndio causou perdas bilionárias, quando na verdade o valor situou-se na casa de centenas. Simples também afirmar que pagou milhões por um “seguro” que nem emitido foi, como fez a Precisa Medicamentos ao Ministério da Saúde, para quem ofertou uma garantia inexistente do FIB Bank no valor de R$ 80,7 milhões para a compra da vacina indiana Covaxin. Neste exemplo não era seguro e sim garantia fiduciária, um ramo sem regulação.

Para evitar isso o setor de seguros, que tem mais de R$ 1,2 trilhão em reservas administradas em 2021, tem de ser bem regulado. E assim tem sido. Tanto que dificilmente se ouve falar em uma seguradora quebrada ou envolvida em escândalos. Assim como o mercado bancário. Regulados e solventes.

Quando comecei a estudar o tema seguros, em 1992, percorri o mundo, pois aqui havia pouca informação. Naquela época, sem a internet, tinha de rodar a avenida Paulista, onde estavam instaladas as principais seguradoras do Brasil, para conseguir dados estatísticos para escrever matérias para a Gazeta Mercantil, até então o único jornal financeiro do país. Sem números, as matérias não eram publicadas. E as seguradoras não tinham dados, o elemento básico e fundamental do setor para calcular probabilidades e o preço final ao consumidor. Mas eu tinha ambições de uma carreira de sucesso. Então batalhei muito para ajudar o setor a crescer, para que eu e o país pudéssemos crescer juntos.

Enquanto construia uma base sólida de relacionamento com executivos interessados em inovar para o setor crescer, me valia de dados internacionais para conseguir emplacar matérias de seguros na Gazeta Mercantil. Para conquistar a atenção dos consumidores, governos e empresas não bastam palavras bonitas, adjetivos em excesso sobre si mesmo e suas empresas e um polpudo orçamento de marketing. Precisam mostrar a importância do seguro em dados confiáveis. Ter um propósito. Estratégias traçadas e divulgadas. A política ajuda, mas ter dados são imprescindíveis. Hoje temos um banco de dados incrível. A CNseg, por exemplo, tem hoje um portal só de estatísticas, de tudo quanto é assunto do setor.

Aos poucos, consegui a confiança de vários porta vozes. Muitos deles nunca tinham aparecido no jornal. E ganharam o gosto de ter o bico de pena estampado na primeira página por feitos simples, como dar ao jornalista uma tabela com dados dos atendimentos nas centrais de atendimento, de vendas, de lucro. E, passo a passo o setor foi crescendo. Aquela baixa auto estima de que quem trabalhava em seguros desaparecia aos poucos. Muitos tristemente diziam que seguros era formado por executivos que não tinham dado certo em bancos, que eram os donos das manchetes financeiras.

O setor passou a acreditar em si e, preparado, a alçar voos impulsionados pelo crescimento da economia. Com isso, atraiu novos talentos, investidores e consumidores. Todos saíram ganhando. Pessoas e empresas mais protegidas. Profissionais valorizados. Governo arrecadando mais com impostos e empurrando para o setor privado uma boa parcela da população que contava apenas com o SUS e com a previdência oficial. A frota veículos era renovada pois o crédito ficava mais barato ao ter uma garantia do seguro. Na compra da casa própria o mesmo. Empréstimos para projetos de infraestrutura também. O seguro reduz a taxa ao estar alocado na planilha do orçamento da obra.

A população da classe C passou a usar e abusar dos serviços oferecidos pela saúde suplementar, com mais agilidade e qualidade. Hoje são quase 50 milhões de brasileiros nos planos privados. A população também passou a se planejar financeiramente e construir um futuro mais previsível. Mais de R$ 120 bilhões foram sacados dos fundos de previdência privada PGBL e VGBL durante a pandemia pelos cotistas para fazer frente a despesas com a perda de emprego.

Fora isso, pensa na ajuda que o seguro de vida trouxe para as famílias que perderam o arrimo de família para a Covid? As seguradoras brasileiras pagaram desde o início da pandemia até julho R$ 3,7 bilhões em indenizações quase 86 mil pessoas pertencentes às famílias das vítimas da covid-19. Esse valor envolve diversos produtos, como propriamente pela morte, pagamento de dívidas, despesas com funeral, diárias hospitalares e despesas com viagens não ocorridas em razão da pandemia. Um alivio inclusive para o governo ao ter famílias que puderam recomeçar e seguir consumindo e pagando impostos, em vez de irem engrossar a lista de 125 milhões de pessoas em insegurança alimentar estimadas no Brasil.

Nos últimos anos o que temos com algumas das regras divulgadas é uma redução dos atritos com consumidores. Certamente o setor gasta mais tempo divulgando e vendendo do que dando desculpas porque não vai pagar apólices. Os Procons agradecem pela redução de queixas em seus atendimentos. O Reclame Aqui agradece o empenho das seguradoras em resolverem as poucas queixas que chegam ao portal, que gira uma quantidade incrível de divulgação das seguradoras pedindo votos para serem eleitas as Melhores para o Consumidor.

Não foi Solange que mudou o setor para melhor ou para pior. Foi a tecnologia que empoderou o consumidor e Solange deu a cara para bater e se valeu da tecnologia para melhorar boa parte da regulamentação. Boa parte das normas divulgadas, após audiência publica realizada entre seguradores e técnicos da Susep, permitiu melhoria em todas as fases da gestão de um seguro. Em algumas, piorou, mas voltou ao debate. Dá trabalho mudar? Claro que dá. Custa caro? Sim. Mas o benefício de ter mais consumidores protegidos compensa.

Os corretores passaram a contar com melhores produtos para ofertar aos consumidores. Inclusive para as PMEs, até então fora do mercado por falta de estatísticas sobre qual o risco que representavam e inexistência de sistemas de segurança eficientes em larga escala que pudessem controlar fraudes. Isso ajudados pela tecnologia e plataformas lançadas, pelo avanço nos meios de pagamentos e pela regulamentação que foi simplificada.

Quem nunca teve seguro de carro, agora tem. Se não pode pagar pela reposição do bem, pode contar com o serviço de guincho para não ficar apavorado na beira de uma estrada sem ter como remover o carro quebrado.

A população passou a ter acesso ao seguro celular para danos e furtos simples. Agora os consumidores contam até com serviço de retirada e entrega do aparelho danificado substituído por um novo. Até então menos de 1% dos celulares tinha seguro pois a oferta só contemplava cobertura para furto qualificado e roubo, com cobrança de franquia e um preço não suportado pelo orçamento apertado das famílias. Um produto tão ruim só poderia lotar os canais de atendimento dos Procons com milhares de reclamações.

E por quê as seguradoras conseguiram mudar sistemas e produtos, avançar na relação com o corretor e na distribuição de seus produtos? Porque os investidores e acionistas passaram a ver um futuro deslumbrante de crescimento e aportaram mais recursos no negócio. A concorrência estimulou todos a melhorem seus produtos. Ajudou a reduzir comissões de 80% em alguns produtos para menos de 30%. Ajudou a profissionalizar ainda mais a profissão do corretor de seguros ao eliminar algumas práticas abusivas entre seguradoras e corretoras que eram praticamente cativas.

A Susep poderia ter incluído mais o corretor nas discussões? Sim. Mas logo no início se criou uma intriga tão intensa que estremeceu as relações. Ela poderia ser mais simpática e atender mais os telefonemas dos principais porta vozes do setor? Sim. A comunicação teria fluído bem. Mas ela optou por mandar mensagens por jornais e se aliar a FGV e nao a ENS.

Poderiam todos ser mais respeitosos com Solange, a primeira mulher a assumir o comando da Susep? Sim. Não por ser mulher. Mas por ela ter superado o machismo do mercado e mudar algumas regras mesmo diante de pressões intimidadoras. Por vencer os obstáculos que outros titulares da Susep não conseguiram, como Rene Garcia, Roberto Westenberger e até mesmo o corretor Joaquim Mendanha, que tinham em suas agendas boa parte de tudo que a gestão de Solange regulamentou. Ambos chegaram a confidenciar que tentavam mudar, melhorar, mas “a pressão está insuportável”, diziam quando eu cobrava notícias para noticiar diariamente aos leitores interessados pelo setor.

Poderia ter mais gente dotada de generosidade e agradecer toda a pressão que Solange aguentou nesses quase três anos? Sim. Mas o que lemos em mídias e em comentários de matérias ou em grupos de WhatsApp? Desrespeito. Ok. Vivemos em uma democracia e todas as opiniões são respeitadas. Mas cadê a turma que ajudou a Susep a mudar? A omissão de bons comentários demostra um machismo sem igual, num setor que luta pela diversidade.

A Susep não pode ser palco de disputa de poderes. Não pode ser gerida por uma pessoa que faz parte da regulação. Ela tem de ser formada por técnicos, com jogo de cintura para lidar com tantos interesses. E não por corretores, seguradores ou resseguradoras. Ela precisa de um profissional sem conflitos de interesses. Que saiba dizer sim, não, se desculpar, avançar mesmo com pressão e voltar atrás se for preciso.

Bancos, seguradoras, fintechs e insurtechs. Todos dependem do consumidor. A briga tá feia, mas tem ganhar com ASG e não com jogo político. Regulados e reguladores têm de ter olhos para o futuro. Para o consumidor, pois é ele quem decide se vai comprar ou não um produto do setor. Ele não vai comprar se o produto for caro ou inútil. Ele não vai aceitar um seguro em sua conta corrente, de luz ou de gás sem ter solicitado. E se isso persistir em acontecer, ele vai denunciar. Vai colocar a boca nas redes sociais. Ele vai odiar o setor se ficar recebendo ofertas abusivas e sem sentido.

Por isso, seja lá quem for que seja o responsável por indicar um novo titular para a Susep, eu peço que tenha consciência deste momento incrível do setor de seguros. Que respeite o que foi conquistado. Que tenha discernimento para mudar o que trava o setor. Que agregue governança, transparência e crescimento. Que decida a favor do consumidor, que é mais poderoso do que político, que, por sinal, está com uma lição de casa imensa para ser respeitado até mesmo quando entra em avião. Se quiser emplacar nas eleições de 2022, faça boas escolhas. Se destruir o setor de seguros, perderá o apoio de um setor que pode ajudar a construir um pais mais resiliente ao ajudar todos a gerenciarem riscos. Além de ser um investidor institucional que está entre os maiores do mundo, administrando trilhões de dólares de clientes.

Como jornalista, consumidora de seguros e brasileira que viu muita gente recomeçar a vida porque recebeu uma indenização de seguradora agradeço à Solange por ter gerenciado uma equipe que conseguiu, com poucos recursos, transformar o setor e colocar em prática regras que há tempos se pretendia implementar. Meu muito obrigada a você. Que siga sua carreira e faça boas coisas no BNDES, onde é funcionária de carreira.

Fonte: Sonho Seguro

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