Presidente da Aprosoja-MT defende industrialização da soja no Senado
Durante audiência pública realizada na terça-feira, 5, na Comissão de Infraestrutura do Senado para tratar da mistura do biodiesel ao diesel de petróleo, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, destacou a importância da utilização do biocombustível dentro da cadeia produtiva do país.
“O Brasil é hoje um exportador de soja, consumimos menos e 50 por cento do que produzimos, nós precisamos e dependemos da manutenção do uso do biocombustível. Os produtores utilizam em 1 hectare, em média 60 a 80 litros de combustíveis, sem contar que grande parte do transporte nacional está ligado com a produção primária que são a soja, o milho e derivados”, disse.
Em setembro o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), do Ministério de Minas e Energia (MME), decidiu reduzir temporariamente o teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel de 13% para 10%.
A mudança valeu para o 82º Leilão de Biodiesel, destinado ao suprimento dos meses de novembro e dezembro de 2021. Isso ocorreu, segundo o ministério, em decorrência dos efeitos da valorização do custo do óleo de soja nos mercados brasileiro e internacional, combinados com a desvalorização cambial da moeda brasileira frente ao dólar. O cenário poderia gerar excessivo incremento do preço do óleo diesel por causa do aumento do biodiesel.
O autor do requerimento da audiência pública, senador Wellington Fagundes, disse que “precisamos discutir esse tema que tem afetado toda cadeia produtiva do país. Nós estamos preocupados, mas temos que agir. Temos uma meta, que é encontrar uma forma mais estável e previsível do custo desse produto que abastece carretas e caminhões e move nossa logística de transportes”, declarou o senador.
Para o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore, “a partir do momento em que se restringe o teor de mistura obrigatória do biodiesel no óleo diesel, poderemos trabalhar contra nosso país. Nossa sugestão é buscar tecnologias para equiparar a um aumento gradativo e que diminua cada vez menos problemas. Expandir o uso e não limitar, porque nós mesmos poderemos criar uma barreira destrutiva a médio e longo prazo”.
O biodiesel é um biocombustível feito a partir de plantas (óleos vegetais) ou de animais (gordura animal), mas no Brasil o produto tem no óleo de soja sua maior parcela de matéria-prima, com cerca de 71%.
“Nós estamos em um cenário que a gente é extremamente dependente de exportação, o que aconteceria se amanhã a China, a Europa parassem de importar ou se tivéssemos um problema portuário, nós como país por uma questão até de sobrevivência precisamos manter a produção constante e para isso limitar a incorporação do biocombustível, seja no combustível não seria uma solução inteligente por conta que nós mesmos estaríamos desestimulando a produção e sem dúvida nenhuma os setores produtivo primário e de transporte vão padecer”, complementou o presidente da Aprosoja Mato Grosso.
Indústria
Na comissão, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) e a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) defenderam a redução da mistura para 10%. As entidades alegaram que níveis acima desse índice geram problemas para os motores.
Segundo a CNT, a mistura maior de biodiesel gera problemas como o entupimento de filtros, bicos injetores, formação de resíduos em tanques de combustíveis, além de borra no cárter e dificuldades na partida a frio.
Sustentabilidade
Durante audiência, o diretor superintendente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), Donizete Tokarski, defendeu o banimento do diesel S 500, combustível de origem fóssil que representa 45% do consumo nacional e é responsável por lançar uma grande quantidade de enxofre na atmosfera.
“O Brasil utiliza um diesel que provoca poluição, causa doenças e mata brasileiros. Adversário do biodiesel é adversário da vida”, disse Donizete. E acrescentou: “Essa discussão deve ser travada exatamente para os cidadãos, para as pessoas, e o que nós vimos nessa coalisão que se apresentou antes aqui contra o uso do biodiesel na mistura do biodiesel, foi mais defendendo as máquinas. Nós temos que nos preocupar com o entupimento das veias das pessoas que sofrem com a poluição causada pelos combustíveis fósseis”.
O dirigente da Ubrabio refutou as afirmações feitas por representantes da indústria automobilística, da produção e distribuição de combustíveis fósseis de que o biodiesel provoca problemas mecânicos nos motores com o uso de percentual de mistura acima de 10%. Ele citou o exemplo dos EUA onde, a depender do Estado e da estação do ano, há uma variação entre 5% a 20% de mistura de biodiesel ao diesel fóssil que abastecem os mesmos veículos e equipamentos utilizados no Brasil. “Em Minnesota, que é um estado muito frio, no período de mais frio eles misturam 5% e no período quente a mistura é de 20%”, exemplificou.
Na sessão Donizete enumerou os benefícios de toda a cadeia de produção do biodiesel para a economia, com investimentos acumulados que chegam a R$ 9 bilhões em mais de 50 plantas industriais espalhadas pelo interior do país, geração de emprego e renda, além do envolvimento de 300 mil trabalhadores da agricultura familiar que fornecem matérias primas para a produção do biocombustível.