Algodão: Cotação alcança nível mais alto em um década em Nova York impulsionada por demanda chinesa
Os futuros de algodão negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) estão sendo negociados em seu nível mais alto desde setembro de 2011. O movimento é impulsionado pela crescente demanda chinesa, que vem sendo atendida, em parte, pelo aumento das exportações dos Estados Unidos, após um acordo firmado entre os países.
Ontem, o vencimento dezembro da pluma subiu 40 pontos (0,38%), para 104,93 centavos de dólar por libra-peso. Nos últimos dez pregões os preços subiram 18% e essa alta pode se refletir também nos custos do setor de vestuário.
A pluma mostra os efeitos, muitas vezes inesperados, que a política comercial pode ter sobre os preços. Em 2020, o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, baniu algodão e produtos de algodão do principal produtor chinês por alegações de trabalho forçado na região noroeste de Xinjiang, onde Pequim tem perseguido o povo uigur, em grande parte muçulmano, como parte da maior detenção em massa de um grupo minoritário desde a Segunda Guerra Mundial. Apesar disso, as empresas norte-americanas ainda podem importar produtos de algodão feitos na China desde que a pluma utilizada nas produções seja originária de outro lugar.
Desde então, o gigante asiático está importando algodão, em grande parte dos EUA, para fabricar produtos e despachá-los de volta para o país. O apetite do gigante asiático por importações de algodão está, em parte, sendo preenchido pelo algodão produzido nos EUA. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), o ritmo das vendas de exportação de algodão para o país, desde o início do novo ano de comercialização em 1º de agosto, é 83 % maior do que na temporada anterior. “Se não se pode usar a pluma produzida em Xinjiang, é preciso importar muito mais algodão e fios”, disse o diretor de Gestão de Risco da Plexus Cotton, Peter Egli. Segundo o diretor, a China está suprindo suas necessidades da pluma também por outros países exportadores importantes, como a Índia.
Em um discurso ontem (4), a representante comercial dos EUA, Katherine Tai, disse que os EUA planejam iniciar uma nova rodada de negociações comerciais com a China, mantendo as tarifas sobre as importações chinesas.
De acordo com a previsão mais recente do USDA, o consumo de algodão no gigante asiático, no atual ano de comercialização, deve ser de 41 milhões de fardos, o equivalente a cerca de 8,9 milhões de toneladas. Isso representa um aumento de 24% em comparação com as duas últimas temporadas, impulsionado em parte por um aumento pós-pandêmico na demanda por bens de consumo de modo geral.
Fundos de investimento elevaram suas posições compradas, apostando na alta dos preços do algodão em Nova York, segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), na última sexta-feira (1º). O otimismo acontece à medida que os fazendeiros dos EUA começam a colher suas safras. O USDA informou ontem que a safra de algodão em todo o país está 13% concluída e 62% dela está em boas ou excelentes condições, ante 40% registrado na temporada anterior. “As condições estão boas, então a colheita deve permanecer positiva”, disse o analista do Price Futures Group, Jack Scoville. Além disso, a China se tornou mais atuante no mercado mundial, acrescentando que “os EUA podem oferecer o volume e a qualidade do algodão que a China deseja”.
Ainda assim, o apetite da China por pluma e outras culturas pode se esgotar. Os cortes de energia atingiram as províncias chinesas, com o governo, em alguns casos, forçando o fechamento de fábricas para economizar energia. O Escritório Nacional de Estatísticas de Pequim informou, na última quinta-feira, que a atividade manufatureira do país contraiu em setembro, encerrando uma sequência de expansão de 18 meses. “O racionamento de energia deve restringir a atividade industrial até que a demanda diminua o suficiente para trazer o mercado doméstico de eletricidade de volta ao equilíbrio”, disse o economista sênior da Capital Economics para a China, Julian Evans-Pritchard, em uma nota na semana passada.
Fonte: Broadcast Agro
Publicado em: Agro&Negócios, Internacional