Perspectiva: mercado de grãos continua com atenção voltada para clima nos eua
Investidores do mercado futuro de soja, milho e trigo na Bolsa de Chicago (CBOT) começam a semana de olho no clima nos Estados Unidos e tentam antecipar os números de área plantada no país. As disputas sobre a mistura de biocombustíveis nos combustíveis nos EUA também seguem no radar.
Na sexta-feira, os futuros de soja negociados na CBOT fecharam em baixa, pressionados pelo desempenho do óleo, que caiu quase 5%. O vencimento novembro da soja em grão recuou 22,00 cents (1,70%), para US$ 12,6975 por bushel. A queda na semana foi de 3,29%. O óleo de soja foi pressionado por uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos que favoreceu pequenas refinarias de petróleo em disputa envolvendo exigências de mistura de biocombustíveis. Também persistem rumores de que o governo do presidente Joe Biden poderia flexibilizar essas exigências, apesar de não haver uma confirmação até o momento. O óleo de soja é uma das principais matérias-primas usadas na fabricação de biodiesel.
A AgResource Brasil destacou, em relatório que, não bastassem as incertezas em relação ao clima para as lavouras dos Estados Unidos e o compasso de espera por parte dos operadores em relação aos relatórios de área plantada e estoques trimestrais do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), “mais uma notícia foi adicionada para mexer com o mercado”. “Agora, cabe à Agência de Proteção Ambiental determinar quando e se essas isenções serão realmente concedidas”, disse a consultoria. Para a AgResource, a sentença da Suprema Corte traz “pouca ou nenhuma clareza” sobre a produção e consumo de biocombustíveis no longo prazo. “Vale lembrar que a expansão da capacidade de geração desses combustíveis ainda está em andamento. E, inclusive, a construção de uma usina de US$ 550 milhões em Louisiana foi anunciada nesta manhã (manhã de sexta-feira).”
Em comentário enviado a clientes, a Pátria Agronegócios assinalou que a decisão da Suprema Corte contribuiu para a pressão sobre os futuros, associada a chuvas previstas para o cinturão nos próximos 10 dias. “Isso pode levar a uma retração no uso de biocombustíveis lá nos EUA, o que diminuiria demanda por etanol de milho e pelo biodiesel produzido a partir do óleo de soja, levando também a uma menor demanda por esses grãos”, disse a consultoria. “Isso foi suficiente, juntamente com a melhora climática, para derrubar novamente as cotações em Chicago.”
Quanto ao clima nos EUA, Arlan Suderman, da StoneX, destacou a ocorrência de 300 mm de chuva sobre partes do noroeste do Missouri na noite de quinta-feira, “dentro de uma área de chuvas muito fortes que se estendeu do nordeste do Kansas em uma faixa pelo Missouri”. A corretora Labhoro apontou, em relatório semanal, que as previsões sugeriam chuvas abaixo do normal para as Dakotas, mas mantinham precipitações para boa parte do Meio-Oeste. Para o leste de Iowa, norte do Missouri, Illinois e Michigan eram esperadas chuvas fortes no último fim de semana. “Tais previsões animam produtores e negociantes, considerando que os volumes poderão amortizar a falta de umidade do solo nas regiões mais afetadas pela estiagem”, disse a corretora.
Traders também ajustaram posições antes dos relatórios de área plantada e de estoques que o USDA publica depois de amanhã (30). De acordo com analistas consultados pelo Wall Street Journal, a área de soja deve ser estimada em 89,15 milhões de acres (36,08 milhões de hectares), em comparação a 87,6 milhões de acres (35,45 milhões de hectares) projetados no fim de março. Quanto aos estoques em 1º de junho deste ano, os analistas estimam 795 milhões de bushels (21,64 milhões de toneladas), ante 1,382 bilhão de bushels (37,62 milhões de toneladas) um ano antes. O analista Michael McDougall, da Paragon, destacou que há grande variação entre as projeções de área nos EUA, “com muitos olhando para a relação de preço de milho e soja e fazendo suposições fundamentadas”. “É possível pensar que, com US$ 40 bilhões em dinheiro do governo, mais preços atraentes, produtores aumentariam a área tanto quanto possível.”
Fundos de investimento reduziram suas apostas na alta dos preços de soja na CBOT na semana encerrada na última terça-feira (22). De acordo com dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), a posição líquida comprada diminuiu 21,44% no período, de 102.242 para 80.318 lotes.
Os futuros de milho fecharam em queda na sexta-feira na CBOT. Os negócios foram influenciados pela decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos sobre isenções a pequenas refinarias de petróleo. Com a decisão, essas refinarias ficam desobrigadas de cumprir integralmente exigências de mistura de biocombustíveis. No país, o etanol é feito principalmente com milho. O vencimento dezembro do grão caiu 16,75 cents (3,13%), para US$ 5,1925 por bushel. Na semana, o recuo foi de 8,30%.
O mercado também passou por ajustes antes dos relatórios de área plantada e estoques que o USDA publica nesta semana. Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal acreditam que a área semeada com milho nos EUA será estimada em 93,818 milhões de acres (37,97 milhões de hectares), ante 91,144 milhões de acres (36,88 milhões de hectares) projetados no fim de março. Já os estoques no começo de junho devem ser estimados em 4,204 bilhões de bushels (106,78 milhões de toneladas), em comparação a 5 bilhões de bushels (127 milhões de toneladas) um ano antes. Karl Setzer, da AgriVisor, disse que os estoques podem ser maiores do que se imaginava, tendo em vista as vendas recentes realizadas por produtores.
A empresa de meteorologia DTN prevê chuvas nesta semana no sul de Iowa, no Missouri e em áreas de Illinois. No noroeste do Meio-Oeste, no entanto, as precipitações devem ser fracas. A expectativa é de que a seca na região persista durante o verão do Hemisfério Norte.
O saldo comprado de fundos em milho diminuiu 4,75% na semana encerrada na terça-feira (22), de 254.907 para 242.811 lotes, segundo números da CFTC.
A queda nas cotações internacionais do trigo de mais de 4,5% no acumulado do mês deve se estender nas próximas semanas e ao longo do segundo semestre se não houver extremos climáticos, avaliou o gerente sênior de Risco de Grãos e Algodão da consultoria Hedge Point, Roberto Sandoli. Segundo ele, o recuo dos preços deve-se à perspectiva de uma boa safra no Hemisfério Norte. “Toda semana estamos vendo revisões positivas na colheita do Hemisfério Norte. A produção da Europa tende a se recuperar e a região do Mar Negro deve ter uma safra próxima ao do ano passado”, observou Sandoli.
Conforme o analista, se não houver “surpresas climáticas”, a safra dos Estados Unidos, que está sendo colhida, também tende a ser “boa”, o que pode aliviar a oferta mundial do cereal. Já do lado da demanda, as compras de trigo pela China estão no centro das atenções do mercado e podem frear o recuo dos preços internacionais do grão, segundo Sandoli. “Se os chineses voltarem a comprar ativamente o cereal, a queda pode ser limitada”, projetou.
Na sexta-feira, os futuros de trigo negociados na CBOT fecharam em baixa, influenciados pelo desempenho do milho. Os dois grãos tendem a se mover na mesma direção porque um é substituto direto do outro em ração animal. Na quarta-feira, o USDA publica seus relatórios de área plantada e estoques. De acordo com analistas consultados pelo Wall Street Journal, a área total de trigo no país deve ser estimada em 45,951 milhões de acres (18,6 milhões de hectares), ante 46,358 milhões de acres (18,76 milhões de hectares) projetados no fim de março. Já os estoques do grão em 1º de junho deste ano devem ser estimados em 858 milhões de bushels (23,35 milhões de toneladas), em comparação a 1,028 bilhão de bushels (27,98 milhões de toneladas) um ano antes.
Na semana encerrada na terça-feira (22), fundos reduziram em 69,14% suas apostas na queda dos preços de trigo. A posição líquida vendida passou de 16.207 para 5.001 lotes.
O vencimento setembro do trigo na CBOT caiu 11,25 cents (1,73%) na sexta, para US$ 6,4075/bushel. O recuo na semana foi de 3,76%.
Fonte: Broadcast Agro
Publicado em: Agro&Negócios, Internacional