MÁQUINAS AGRÍCOLAS: REAJUSTES NÃO AFASTAM PRODUTOR E MERCADO DEVE VOLTAR A CRESCER
O presidente da AGCO América do Sul, Luis Felli, espera um aumento da ordem de 15% nas vendas do setor. A Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA), da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), prevê alta de 10% no faturamento da indústria, já considerando reajustes no preço do aço que vêm sendo feitos por siderúrgicas neste ano.
“Grosseiramente, os preços da soja e do milho dobraram (no último ano), enquanto os valores das máquinas agrícolas aumentaram em torno de 20%. Então a relação de troca ainda está muito vantajosa para o produtor”, afirmou Felli ao Broadcast Agro. Ele lembra que no último ano o preço da soja passou da faixa de US$ 8/bushel para US$ 13,50 agora, ao mesmo tempo em que o dólar saiu de R$ 4 para R$ 5,40. “O produtor rural está em um momento bom, bem remunerado”, reforçou.
O diretor de Marketing Comercial da New Holland Agriculture para a América do Sul, Gustavo Taniguchi, considera que o mercado de máquinas agrícolas deve avançar 5% neste ano. “Tivemos um 2020 muito positivo, aumentamos nossa participação em todos os segmentos em que atuamos e pretendemos continuar crescendo, em especial nas vendas de pulverizadores, colheitadeiras e em digitalização agrícola”, afirma Taniguchi.
Os três executivos contam que as vendas estão aquecidas neste início de ano, mesmo com o esgotamento de recursos de linhas do BNDES que contavam com juros a taxas subsidiadas. O cenário de taxa Selic em patamar mais baixo, dizem, tem facilitado a procura por linhas de mercado em bancos privados e de fábrica. “No nosso banco (Banco CNH), o CDC tem rodado bem e bancos convencionais também estão trabalhando com outras linhas”, conta Taniguchi, da New Holland. “Hoje há linhas em dólar e em euro competitivas, o BNDES Crédito Rural (linha do banco com taxas não equalizadas pelo governo), então o produtor está financiando por essas linhas”, diz Felli, da AGCO.
A demanda aquecida se somou à falta de peças e tem gerado atrasos na entrega de produtos. “Desde julho do ano passado a indústria como um todo vem sofrendo de escassez de matérias-primas. Faltam aço, pneus, plásticos, por causa das paralisações das fábricas (no primeiro semestre de 2020 para tentar conter o avanço do coronavírus no Brasil), do desequilíbrio na cadeia de suprimentos e da lentidão na retomada (da produção)”, afirma Felli.
O reaquecimento de alguns setores, como o automotivo, de construção civil, dentre outros, como o próprio agronegócio, também tem enxugado a oferta de matérias-primas para os fabricantes de máquinas agrícolas.
“Por outro lado tem o aumento da renda do produtor e uma tendência muito forte de ele fazer upgrade em suas tecnologias e máquinas. O grande desafio para o ano de 2021 é justamente poder atender a essa demanda”, continuou.
Hoje, a AGCO já está com sua capacidade produtiva “tomada” até o fim do segundo semestre, considerando os pedidos realizados por produtores rurais. Máquinas referentes a novos pedidos só entrarão na linha de produção no segundo semestre, conforme o executivo. O prazo de entrega médio, de 60 dias, chega a 150 dias em alguns casos. Já os estoques dos concessionários têm produtos para atender, em média, demanda para 30 dias, quando normalmente esse prazo seria de 60 dias. “Hoje temos muita dificuldade em aumentar a capacidade de produção por falta de peças. O que pode não materializar a perspectiva de aumento de 15% do mercado neste ano é a oferta limitada”, avalia Felli.
Em 2020, as vendas de máquinas agrícolas e de construção aumentaram 7,3% ante 2019, de acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que reunia, até o ano passado, os três maiores grupos de empresas do setor, além de outras fabricantes. A John Deere deixou a associação em novembro.
Já a CSMIA, que reúne cerca de 400 fabricantes de maquinário para agricultura, pecuária e armazenagem, fechou 2020 com aumento de 17,6% em faturamento real (já descontada a inflação), que atingiu R$ 22,2 bilhões. “É um aumento que não víamos desde 2013”, comentou Oliveira. Em torno de 60% do resultado foi sustentado por produtores de grãos.
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