Irrigação e hormônios vegetais elevam produtividade e qualidade do café, revela estudo com modelagem 3D

Uma pesquisa conduzida pela Embrapa Meio Ambiente revelou que técnicas específicas de irrigação, combinadas com reguladores de crescimento vegetal, podem elevar tanto a produtividade quanto a qualidade dos grãos de café arábica — mesmo em cenários de estresse hídrico, cada vez mais frequentes. Pela primeira vez, foi aplicada modelagem tridimensional para analisar como esses fatores influenciam o desenvolvimento da planta e a maturação dos frutos.
Irrigação pontual mantém fotossíntese ativa e melhora o enchimento dos grãos
A pesquisadora Miroslava Rakočević explica que a irrigação de curta duração — feita por seis semanas durante a fase final de maturação — foi eficaz para preservar a área foliar e manter a fotossíntese em níveis ideais. Isso se traduz em maior captação de carbono e mais energia para o enchimento dos grãos, essencial para cafés de qualidade superior. Sem irrigação, as plantas sofrem perda de folhas, redução da atividade fotossintética e baixa taxa de frutos maduros no ponto ideal de colheita.
Reguladores de crescimento aceleram a maturação e equilibram efeitos da irrigação
Para compensar o leve atraso na maturação causado pela irrigação, foram testados reguladores como o ácido giberélico (GA3) e o etileno na forma de Ethephon. O GA3 se destacou ao antecipar e uniformizar a maturação, além de reduzir a presença de frutos verdes. Já o Ethephon aumentou compostos fenólicos benéficos para o sabor do café, mas trouxe efeitos colaterais como a queda de folhas e frutos — especialmente em plantas sem irrigação adequada.
Ramos terciários têm papel estratégico na produção de café
A modelagem 3D revelou um dado estratégico: os ramos de terceira ordem, frequentemente negligenciados no manejo tradicional, respondem por até 37% da produção de bagas vermelhas e 25% das verdes. Isso reforça a importância de podas e manejos mais precisos, considerando a estrutura completa da planta para alcançar maior produtividade.
Qualidade do café varia conforme a posição do fruto na planta
A pesquisadora Eunice Reis destaca que a posição dos frutos também influencia diretamente sua composição química. Grãos localizados nas partes médias e superiores da copa apresentam maior teor de lipídios e compostos como o kahweol — fundamentais para o aroma e o sabor da bebida. Já os frutos do topo, embora mais ricos em lipídios, têm menor concentração de cafeína e proteínas.
Tecnologia e sustentabilidade para uma cafeicultura resiliente
O estudo utilizou softwares como o CoffePlant3D e VegeSTAR para simular o impacto do manejo na arquitetura da planta e na captação de luz. As análises mostraram que a irrigação é decisiva para manter funções fisiológicas como fotossíntese, transpiração e condutância estomática — especialmente nas camadas médias e superiores da copa.
A pesquisa foi conduzida durante a safra de 2018, marcada por estiagem severa entre abril e maio. O cenário reflete uma realidade cada vez mais comum nas regiões cafeeiras brasileiras, exigindo práticas adaptativas e sustentáveis no campo.
Produção de café de qualidade mesmo com escassez hídrica
Segundo Fábio Matsunaga, pesquisador do UniSENAI, é possível obter grãos de alta qualidade mesmo sob estresse hídrico, desde que haja planejamento no uso da água e aplicação adequada de reguladores de crescimento. A estratégia é especialmente útil em lavouras com floradas irregulares, garantindo uniformidade na maturação e melhor qualidade sensorial da bebida.
Além do retorno econômico, as práticas recomendadas também promovem sustentabilidade, reduzindo o consumo de recursos naturais e mantendo a vitalidade das plantas mesmo em períodos críticos.
Caminho para uma produção mais inteligente e segura
Combinando tecnologia de ponta, conhecimento agronômico e fisiologia vegetal, o estudo reforça que o futuro da cafeicultura passa por manejos mais precisos, que conciliam produtividade, qualidade e resiliência climática.
Para os produtores e técnicos do setor rural, a mensagem é clara: investir em irrigação inteligente e no uso consciente de reguladores de crescimento já não é mais uma alternativa — é uma estratégia essencial para garantir a qualidade do café e a rentabilidade da lavoura.
Fonte: Embrapa