Copom: entenda os recados do Banco Central sobre o futuro dos juros e da inflação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC) decidiu nesta quarta-feira (21) pela sétima manutenção consecutiva da taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano.
No documento, o colegiado afirmou que a conjuntura atual segue “demandando cautela e parcimônia”.
A manutenção da Selic na reunião desta quarta-feira já vinha sendo precificada pelo mercado. A maioria das projeções prevê que o Comitê faça a primeira redução da taxa básica apenas em agosto, em 0,25 ponto percentual (p.p.), possivelmente acelerando para um corte de 0,50 p.p. em setembro.
Quais foram os recados do Banco Central sobre o futuro da Selic?
Segundo analistas consultados pelo g1, o comunicado do Copom ainda deu sinais mais duros do que o esperado sobre a condução da política monetária no país.
Apesar de ter retirado do documento a sinalização de que novos aumentos de juros podem acontecer, por exemplo, o Comitê ainda não deu indícios de um eventual corte da Selic nas reuniões futuras e continuou a indicar que a taxa básica pode seguir elevada por um “período prolongado”.
De acordo com o economista da XP Rodolfo Margato, o Copom fez ajustes no comunicado e reconheceu alguma melhora no cenário macroeconômico, mas ainda não é possível confirmar se haverá algum corte de juros na próxima reunião, em agosto.
No comunicado, o colegiado afirmou que conduzirá “a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, sinalizando que a manutenção da Selic por um período prolongado “tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.
“O Comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, disse o Copom no documento.
Quais as indicações do Copom sobre a inflação?
Sobre os cenários para a inflação, o colegiado afirmou que permanecem fatores de riscos tanto para um aumento quanto para uma queda dos preços.
Entre os riscos de alta, o comunicado destacou:
uma maior persistência das pressões inflacionárias globais;
alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco;
uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Já entre os fatores que podem levar a uma redução de preços, estão:
uma queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global;
uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Por que ainda não houve um corte de juros por parte do BC?
De acordo com os especialistas, apesar das sinalizações mais positivas para o quadro fiscal brasileiro e das perspectivas mais otimistas sobre a atividade econômica e as projeções de inflação, ainda não havia espaço para um corte de juros pela autarquia na reunião que se encerrou nesta quarta-feira.
O profissional destaca, ainda, que outro detalhe importante diz respeito a eventuais impactos na inflação advindos da Medida Provisória (MP) que barateou o preço de carros de até R$ 120 mil.
“Esse pode ser mais um fator para que o Banco Central espere um pouco mais antes de se pronunciar sobre um eventual corte de juros, esperando que esse ruído nos núcleos de inflação passe”, disse.
Segundo o último relatório Focus, relatório de projeções macroeconômicas publicado pelo Banco Central nesta semana, a estimativa é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA, a inflação oficial do país) encerre este ano em 5,12%. Para 2024, a previsão é que o indicador encerre o ano em 4%.
A meta do Banco Central para a inflação neste ano é de 3,25%, com um intervalo de tolerância de 1,5 p.p. tanto para cima quanto para baixo. Já para 2024, a meta está em 3%, também com tolerância de 1,5 ponto percentual.
Metas de inflação continuam no radar
Os analistas reforçam, ainda, que há uma expectativa sobre a meta de inflação, que deve ser definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 29 de junho, na próxima semana.
Para os especialistas, a decisão do CMN, que será sobre a meta de inflação para 2026, deve explicar boa parte de como os juros devem seguir no país.
“Essa decisão é muito relevante e pode fazer com que as expectativas de inflação do Focus, que já reagiram para baixo, continuem migrando para algo mais próximo das metas”, disse o economista-chefe da Genoa Capital, Igor Velecico.
Os analistas indicam que, caso o CMN opte por manter a meta de inflação em 3% e os indicadores econômicos continuem sinalizando uma melhora, com as expectativas dos preços de longo prazo recuando rapidamente, o mercado pode até mesmo começar a precificar um corte mais expressivo dos juros em agosto.
Vale lembrar que, além de criticar o alto nível de juros mantido pelo Banco Central, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também já defendeu mais de uma vez a possibilidade de mudar as metas de inflação.
O que a decisão do BC significa para a economia brasileira?
Mesmo com a manutenção da Selic já precificada pela maior parte do mercado, a decisão ainda divide opiniões entre analistas.
Enquanto alguns têm a leitura de que manter a taxa básica de juros inalterada permite que o BC tenha mais tempo para avaliar o andamento dos preços no país, outros alertam que a decisão colabora para um cenário de “instabilidade econômica”.
Para o consultor corporativo Rafael Ribeiro, a Selic mantida em 13,75% ao ano continua a limitar o acesso ao crédito.
No final de maio, o Banco Central divulgou um levantamento no qual indicava que a taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações com pessoas físicas e empresas subiu de 44,5% para 45,1%, de março para abril desse ano. Esse é o maior patamar desde agosto de 2017.
O tema também tem sido alvo constante de críticas do governo. No começo desta semana, o presidente Lula voltou a cobrar a redução dos juros no Brasil, afirmando que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, precisa se explicar ao povo e ao Senado sobre o alto nível das taxas.
Fonte: G1
Publicado em: Variedades