Produtores apostam em novas tecnologias para melhorar qualidade do plantio no DF
Tecnologia e agricultura andam cada vez mais juntas no agronegócio. Um dos exemplos de produtores que perceberam uma grande melhora foi Anaildo Porfírio, 43 anos. O agricultor familiar e morador do Lago Oeste é do ramo de hortifrúti e conta que, desde 2006, aumentou e incrementou a produção, por conta das tecnologias implantadas com a ajuda de técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). “Com elas, a gente consegue produzir gastando menos e esse recurso acaba sendo utilizado na expansão do negócio”, diz Porfírio. Dados da empresa apontam também que, de 2021 para 2022, a produção das grandes culturas, feitas de forma convencional, cresceu na capital do país (confira infográfico).
Anaildo afirma que, graças às técnicas ensinadas pela Emater, percebeu uma economia na hora da irrigação do campo, por exemplo. “Depois das orientações recebidas, passei a usar sistemas de gotejamento e microaspersão, que influenciaram nessa racionalização da água. Os custos reduziram em torno de 10%”, explica. “Além disso, também cobrimos os canteiros com uma tecnologia que evita a proliferação de ervas daninhas, o que melhorou a produtividade”, acrescenta.
Gerente de Desenvolvimento Agropecuário da Emater-DF, Alessandro Rangel comenta que a utilização de tecnologias, de qualquer tipo, iguala o DF com o resto do país na produção agrícola. “A capital do país tem um potencial enorme de produção de grãos, como a soja e o milho, graças ao uso de tecnologia, que vão desde uma simples análise de campo até a utilização de drones para mapeamento de controle de pragas, por exemplo. Além disso, temos maquinários que chegam a valer até R$ 5 milhões, cada um”, destaca.
A professora, pesquisadora e extensionista da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) Flaviane Canavesi comenta que as principais barreiras para o uso da tecnologia na agricultura estão ligadas ao uso daquelas que beneficiam somente as grandes empresas. “É algo que prejudica. Além disso, o fato de não ter políticas públicas que apoiem tecnologias que estão de acordo com o que, de fato, as pessoas precisam e podem produzir nas suas próprias parcelas/comunidades, é outra questão a ser discutida”, comenta.
Canavesi reforça que é possível combinar tecnologia e agricultura, sem afetar o meio ambiente de uma forma agressiva. “Atualmente, o governo federal está discutindo um programa de produção de alimento saudável, envolvendo vários ministérios, além de um projeto nacional de redução dos agrotóxicos. Se essas questões avançarem, acho que flui muito o avanço dessa combinação”, prevê.
Caminho sem volta
Para Alessandro Rangel, “hoje, o produtor local está consciente de que se não utilizar a tecnologia na sua produção, fica para trás”, alerta. “Então, ele está sempre em busca de novos caminhos tecnológicos para melhorar a produção e a produtividade”, observa.
Segundo o gerente da Emater-DF, dentro desse arcabouço tecnológico, a empresa transita em todas as cadeias produtivas, indo do pequeno produtor até os grandes. Para ele, a tecnologia de campo é um caminho sem volta. “E a tendência é que ela se torne cada vez mais limpa, otimizando e melhorando a produção e qualidade dos alimentos, tornando-os saudáveis e seguros para a população”, prevê. “Temos um público muito exigente, com uma excelente renda e que, muitas vezes, não se importam em pagar a mais por algo de qualidade”, nota.
Rangel acredita que, para aproximar os pequenos e médios produtores da tecnologia de campo, a maneira mais rápida é o crédito rural. “Existem algumas linhas específicas para pequenos e médios produtores, que ajudam na aquisição dessas tecnologias”, afirma. “Mas é preciso tomar cuidado para não criar dívidas por conta dos altos juros”, pondera.
No Distrito Federal, uma das oportunidades para empreendedores rurais de diversos portes e segmentos do Centro-Oeste, Minas Gerais e alguns outros estados é a Feira AgroBrasília, que ocorre entre os dias 23 e 27 de maio, no Parque Tecnológico Ivaldo Cenci, no PAD-DF, localizado a cerca de 70km de Brasília. Na última edição do evento, realizada no ano passado, foram R$ 4,6 bilhões em negócios, valor bem acima do que foi registrado em 2019 (R$ 1,2 bilhão).
Mercado orgânico
São várias as tecnologias existentes para o campo, que vão desde maquinários pesados até os bioinsumos. E no Distrito Federal, este último tipo está em alta, de acordo com dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO), do Ministro da Agricultura e Pecuária (Mapa). A última atualização do mês de maio — divulgada no dia 11 — mostra que 254 produtores aderiram aos bioinsumos.
Professora e pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), Laura Ferreira trabalha com bioinsumos e explica que eles nem sempre são criados em laboratórios. “Nesse caso, falamos dos insumos orgânicos, compostos, por exemplo, de vegetais e que podem ou não adicionar esterco animal”, acrescenta.
A pesquisadora, que tem atuado nessa área, participa de um projeto que visa identificar o que os agricultores estão usando para fertilizar os solos e controlar o que consideram pragas e doenças. “Nesta identificação consideramos bioinsumos produtos comprados ou elaborados na propriedade, assim como processos durante o cultivo ou a criação, os quais permitem melhor desempenho em termos de fertilização ou controle de pragas e doenças”, detalha.
Uma das que aderiram à tecnologia dos bioinsumos, em 2016, é a produtora rural Carla Burin, 46 anos. “Meu pai era produtor convencional. Com o esgotamento da terra, a utilização do bioinsumo veio como uma alternativa de produção”, afirma. “A gente ficou um ano sem cultivar nada para a terra ‘desintoxicar’. Depois disso, entramos com os biofertilizantes, como compostagens e insumos (caldas bordalesas) para o controle de pragas”, detalha.
Para a moradora de Sobradinho, o mais importante durante esse processo foi a implantação de culturas consorciadas. “Antes, a gente focava na monocultura e, desde que passamos a ser produtores orgânicos, plantamos pelo menos dois tipos de sementes”, ressalta. “Isso, naturalmente, enriquece o solo depois da colheita, trazendo oxigenação. Sem contar que a produtividade fica muito melhor e temos uma economia de recursos hídricos, por estarmos irrigando duas culturas ao mesmo tempo”, complementa.
Fonte: Correio Brasiliense
Publicado em: Agro&Negócios