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22 de outubro de 2020

Tardia, colheita de soja do Brasil pode estar 70% vendida quando começar, diz StoneX

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O Brasil não terá apenas uma colheita de soja tardia na safra 2020/21, devido ao atraso no plantio, mas quando ela começar a se intensificar, ao final de janeiro, é possível que até 70% da produção esperada para a temporada já esteja comercializada, avaliou nesta quinta-feira a consultoria StoneX.

Isso significa que os preços da soja, que superaram 160 reais por saca no porto de Paranaguá (PR) nesta semana devido à baixa disponibilidade, um nível nunca visto, deverão ter pouco alívio quando os trabalhos de colheita começarem.

O atraso no plantio pela demora na regularização das chuvas de primavera neste ano, contudo, não representa por ora problemas para a produtividade ou para o tamanho da área plantada, uma vez que a safra deverá ser semeada dentro da janela adequada para a oleaginosa, disse à Reuters a analista de inteligência de mercado da StoneX, Ana Luiza Lodi.

A consultoria, assim, está mantendo a projeção de crescimento de área de 3% ante a temporada anterior, para um recorde de quase 38 milhões de hectares, conforme previu no início do mês em sua reavaliação mensal, o que resultaria uma safra recorde de 132,6 milhões de toneladas, alta de 7% ante o ciclo passado.

A avaliação leva em conta investimentos que estão sendo realizados na lavoura, diante dos preços recordes e das fortes fixações de vendas.

Nas contas da StoneX, o produtor já comercializou antecipadamente 53% da produção brasileira, ou mais de 70 milhões de toneladas, um volume superior à safra da Argentina, terceiro produtor mundial após EUA e Brasil.

“Tem que ver como o produtor vai se comportar, com essas questões de clima, ele acaba ficando mais comedido. Mas daqui a três meses, quando começar a colheita, algo entre 60% e 70% da safra pode já estar vendido”, disse a analista.

“Os preços podem, quando a colheita ganhar força, dar uma baixada, mas nada tão significativo, porque vamos começar a safra 2020/21 com expressivos volume vendidos”, afirmou.

A analista disse ainda que o atraso no plantio do país, maior produtor e exportador global de soja, tem levado alguns produtores a renegociar entregas de soja antes previstas para janeiro.

Boa parte deles, segundo os relatos do mercado, disse ela, estão postergando as entregas para fevereiro, quando a colheita tende a estar mais concentrada.

Apesar da concentração maior do início da colheita em fevereiro, a analista disse não acreditar em problemas logísticos e nos portos, devido aos investimentos realizados recentemente para melhorar o escoamento.

“Não deve ter problemas em portos, pode ter aumento no custo de frete, mas não deve faltar logística”, comentou.

Entretanto, a soja brasileira começará a ser embarcada um pouco mais tarde, o que deve reforçar a janela de exportação dos Estados Unidos, lembrou.

“Tanto que já tem produtor renegociando contratos, renegociando para entregar em fevereiro”, frisou.

Enquanto em 2019/20 o Brasil teve, ao final de janeiro, 10% da safra colhida, e em 2018/19, 20% da colheita realizada, na temporada atual com “grande certeza” haverá disponível menos de 10% da soja projetada para o ciclo, exemplificou a analista.

Para Ana Luiza, as esmagadoras de soja estão cientes de que janeiro tradicionalmente não é um mês de oferta grande. Mas nesta temporada a baixa oferta carregada da safra anterior, após fortes exportações e grande consumo interno, vai acirrar a disputa com os exportadores.

“Vamos terminar 2020 praticamente sem soja, então janeiro, quanto mais demorar a entrar a safra nova no mercado, mais reforça a restrição da oferta”, disse ela, avaliando que, embora as chuvas comecem a se regularizar para o plantio, não será possível tirar o atraso.

O Mato Grosso, que costuma liderar os trabalhos de colheita, havia plantado menos de 10% da área até a última sexta-feira, ante mais de 40% no mesmo período do ano passado.

MILHO

A consultoria também não alterou projeções para o milho primeira safra, com colheita estimada pela StoneX em 27,9 milhões de toneladas, mas está monitorando uma seca no Rio Grande do Sul, importante produtor do cereal no verão.

Sobre a segunda safra, plantada após a colheita da soja, Ana Luiza disse que o atraso preocupa, mas comentou que produtores têm intenção de ampliar a área diante de bons preços, e deverão avançar mais ou menos dependendo das sinalizações climáticas sobre o alongamento ou não das chuvas.

Por Roberto Samora

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