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Manchetes do Mercado

17 de junho de 2020

Executivos compram filial da Markel no país

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Trio que comandava o braço da seguradora americana no Brasil adquire controle da subsidiária

Fonte: Valor Econômico
24/10/2019
Por Sérgio Tauhata — De São Paulo

Quando a seguradora americana Markel decidiu, no fim do ano passado, retirar-se dos turbulentos mercados na América Latina, o trio de executivos que comandava a filial brasileira viu a oportunidade de comprar a própria empresa em que trabalhava. Ao longo do primeiro semestre deste ano, o comando do grupo global passou a efetivar o plano de redução de sua presença na região, primeiro na Argentina e depois na Colômbia.

Quando chegou a vez de sair do Brasil, na segunda metade de 2019, Carlos Caputo, então CEO para América Latina, Gabriel Boyer, vice-presidente, e Rodrigo Motroni, diretor técnico, propuseram à matriz adquirir o controle da filial. “Fizemos o primeiro ‘management buyout’ do mercado brasileiro de seguros”, afirma Boyer. Os executivos, porém, não revelam o valor da transação.

O grupo Markel, com 90 anos de história, faturou US$ 6,8 bilhões no ano passado e fechou 2018 com US$ 33 bilhões em ativos totais. No Brasil, a companhia se especializou em seguros agrícolas. Com R$ 105 milhões em prêmios emitidos neste ano e R$ 150 milhões em 12 meses, a seguradora ocupa o quinto lugar no ranking do segmento no país.

“Desde que a seguradora chegou à América Latina, a região passou por várias crises, como a recessão brasileira, o colapso da Venezuela e a crise cambial da Argentina”, pondera Caputo, que também será o CEO da nova empresa. “Além disso, a estrutura multinacional da Markel tornava a operação menos ágil do que seria interessante, porque todas as decisões passavam obrigatoriamente pela matriz”, acrescenta.

De acordo com Caputo, enquanto a Markel via a operação brasileira como pequena e desproporcionalmente complexa, diante do cenário de incertezas da América Latina, o novo grupo controlador sabia se tratar de uma grande oportunidade de ampliar a atuação em uma indústria que cresce acima do PIB.

Se na estratégia da antiga matriz o foco se concentrava em reforçar a atuação na sua principal fonte de receita, a nova direção já assume com a proposta de diversificar. “Vamos consolidar nossa atuação em agro, mas queremos nos tornar a primeira seguradora especializada em seguros ‘specialty’ do país”, afirma o executivo. Esse modelo, como o nome diz, realiza coberturas especiais, mais complexas e, em vários casos, até mesmo personalizadas.

Dentro dessa estratégia, a seguradora pretende atuar em ramos como a de responsabilidade civil (D&O), voltado a proteger o patrimônio como pessoa física de executivos, as várias modalidades de apólices de garantia, a garantia judicial, fiança locatícia, ciberriscos e outros. “No caso da fiança locatícia, queremos inclusive oferecer o produto para a pessoa física”, diz Motroni.

Ainda em novembro, a seguradora pretende lançar a família de seguros garantia, que cobre prejuízos causados por descumprimento de cláusulas contratuais. Outros produtos serão disponibilizados ao longo do ano que vem.

A empresa vai mudar de marca e passará a se chamar Newe, em referência às palavras inglesas “new enterprise” ou novo empreendimento, em tradução literal. “Só estamos esperando a autorização da Susep para lançar a nova marca”, diz Caputo. “Esperamos que seja aprovada até o fim do mês.”

Segundo Boyer, em um cenário conservador, a meta da Newe é triplicar o volume de prêmios emitidos em três anos para R$ 350 milhões. “Mas há potencial para crescer ainda mais”, reconhece o vice-presidente. O mercado de seguros cresceu 11,1% até agosto, de acordo com dados da Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização (CNSeg), e deve manter o ritmo de dois dígitos em 2020.

Conforme Motroni, a conta da expansão da Newe leva em consideração apenas o crescimento orgânico. Vários potenciais catalisadores do mercado, entre os quais a transferência de riscos do setor público para o privado na área agrícola, como os programas Garantia-Safra e Proagro, a garantia judicial recursal, transferência de coberturas do INSS, privatizações e a própria retomada de investimentos em infraestrutura podem impulsionar o mercado muito além do ritmo atual. “O governo tem sinalizado que pretende passar para a iniciativa privada vários riscos que o setor público assume hoje de maneira ineficiente”, reforça.

A Markel não vai sair totalmente do Brasil, explica Caputo. “A companhia americana vai manter a operação de resseguros”, afirma. O painel de resseguros da Newe, ou seja, a soma do patrimônio das resseguradoras parceiras, que funcionam como uma espécie de seguro das seguradoras, alcança US$ 78,4 bilhões, e foi herdada da antiga controladora. “Isso permite suportar de forma segura as operações em andamento e os planos de expansão”, aponta Boyer.

A Newe já começa a olhar também seguradoras menores e insurtechs para eventual aquisição. “Por enquanto não é nosso foco, mas está em nosso radar a possibilidade de incorporar outra empresa e estamos até estudando algumas operações”, diz o vice-presidente.

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