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Manchetes do Mercado

16 de julho de 2020

Autossuficiência na produção de trigo passa pelo Cerrado, afirmam participantes de live na Agrobrasília Digital

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Se atualmente o Brasil importa cerca de 50% do trigo que consome, existe a possibilidade real de o País se tornar autossuficiente na produção do cereal com o aproveitamento do potencial produtivo no Bioma Cerrado. Essa foi a mensagem destacada pelos participantes da live “Trigo – a vez do Cerrado”, realizada na última segunda-feira (6) pela Agrobrasília Digital, feira de tecnologias agropecuárias realizada de 6 a 10 de julho, totalmente pela internet.

Participaram o pesquisador Júlio Albrecht, da Embrapa Cerrados (DF); o presidente da Cooperativa Agropecuária da Região do Distrito Federal (Coopa-DF), José Guilherme Brenner; o responsável técnico da entidade, Claudio Malinski; e Silvio Farnese, diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com mediação do supervisor de transferência de tecnologia da Embrapa Cerrados, Sérgio Abud. Eles debateram as oportunidades para o crescimento do trigo na região central do Brasil

Albrecht falou sobre o potencial genético para produção de trigo no Cerrado do Brasil Central, lembrando que a área de plantio na região, atualmente de cerca de 200 mil hectares e tem potencial para alcançar 2 milhões de hectares. “O Cerrado do Brasil Central produz hoje um dos melhores trigos do mundo em qualidade para panificação. A autossuficiência em trigo no Brasil passa pelo Cerrado”, afirmou. Temos condições climáticas favoráveis para a produção, tanto é que a Embrapa sempre acreditou no trigo para o Cerrado e vem trabalhando na região desde a sua criação, em meados dos anos 1970”, acrescentou.

Ele argumentou que o produtor necessita de uma gramínea para a rotação de culturas, e o trigo se encaixa bem no sistema de produção do Cerrado. Na região, o cereal pode ser cultivado em duas épocas diferentes – safrinha, em sistema de sequeiro, plantado no final de fevereiro até meados de março em altitudes iguais superiores a 800 metros e colhido em maio e junho; e safra, em sistema irrigado, plantado em abril e maio em altitudes iguais ou superiores a 500 metros e colhido no final de agosto e início de setembro. Ambas as colheitas ocorrem em períodos de entressafra nas outras regiões tritícolas como o Sul do Brasil, o que garante melhores preços ao produtor. Além disso, o cultivo na região não sofre com micotoxinas como a giberela.

O pesquisador destacou a produtividade do trigo da região graças ao potencial genético das cultivares utilizadas – média de 6 ton/ha no trigo irrigado, alcançando 8 ton/ha em algumas fazendas com a BRS 264, desenvolvida pela Embrapa – e a alta qualidade do grão, muito procurado por moinhos locais e de outras regiões do País devido às altas estabilidade e força de glúten, características de interesse para a indústria de panificação. “Temos produtores qualificados, condições climáticas e genética (cultivares). Para buscarmos a autossuficiência rapidamente, é só termos os incentivos adequados”, disse Albrecht, que acredita no desenvolvimento de cultivares ainda mais produtivas, capazes de alcançar produtividades de 9 a 10 ton/ha.

Cooperativa

Ao abordar as perspectivas comerciais sobre a produção de trigo no Cerrado, o presidente da Coopa-DF, José Guilherme Brenner, lembrou que a instituição conta com um moinho próprio desde 1994, devido à necessidade dos produtores da região de rotacionar culturas no inverno para manter a produtividade dos pivôs de irrigação. “Mas até o trigo se tornar realidade, foi um longo caminho. A seleção do trigo não é apenas de produtividade, é preciso ter qualidade industrial”, afirmou, elogiando as cultivares BRS 254 e BRS 264, da Embrapa: “São dois materiais espetaculares do ponto de vista agronômico e da qualidade do moinho (industrial), e são a base da triticultura irrigada na Coopa-DF e da nossa farinha”.

Brenner lembrou que a colheita do trigo no Cerrado, que ocorre em períodos sem chuva, garante a homogeneidade na qualidade do trigo entre uma safra e outra. “Isso nos permite segregar os materiais nos silos, fazer a mistura de acordo com a nossa receita e manter a qualidade da farinha ao longo do ano, o que é muito importante para o comprador e valoriza muito nosso produto”, explicou. A cooperativa tem estimulado o plantio do trigo safrinha. “Ao contrário do trigo irrigado, a safrinha envolve um grupo maior de incertezas, como excesso de chuva no início do plantio e falta durante o processo. Ainda assim, ela será colhida numa época sem chuva”, disse.

O presidente da Coopa-DF lembrou que o moinho da cooperativa está próximo dos produtores e dos consumidores. “Produzimos e entregamos aos nossos consumidores aqui no DF. Diria que o valor do frete da Argentina até o DF estaria entre 25 e 30% do custo do trigo. Nosso moinho tem a economia de trabalhar com o produto da região”, observou. Para Brenner, o problema é ainda é a limitação da área de plantio. “O plantio feito pelos associados é de trigo irrigado, e há anos em que falta trigo e temos que comprá-lo de outros produtores. Essa limitação faz que busquemos o trigo safrinha, porque aumentaria muito a oferta”, disse. “Acreditamos que a expansão da área de trigo sequeiro seria a chave para aumentar a oferta de trigo na região, essencial para termos moinhos de maior volume e estabelecer a segurança de fornecimento a indústrias maiores, promovendo o desenvolvimento econômico”, finalizou.

Cláudio Malinski, responsável técnico da Coopa-DF, apresentou a perspectiva cooperativa acerca da produção do trigo no Cerrado. Entusiasta da cultura, ele lembrou a evolução na produtividade do cereal na região desde a década de 1980 e o investimento na qualidade industrial dos materiais a partir da década de 1990, quando os produtores deixaram de receber subsídios para a produção. Naquele momento, a cooperativa firmou convênio com a Embrapa para o desenvolvimento de cultivares com melhor qualidade de farinha.

Segundo responsável técnico da Coopa-DF, o trigo é encarado pelo produtor como um pacote inserido no sistema de produção, permitindo que o bom desenvolvimento de outras culturas. “Se você plantar feijão, colher milho ou soja, plante trigo, porque ele prepara o terreno na rotação de culturas e cria um volume de palha muito grande. Mesmo que às vezes não seja tão competitivo como as hortaliças e o feijão, o produtor prefere plantar o trigo irrigado para manter (as áreas com) pivôs (de irrigação) produtivos”, disse.

Mas para Malinski, o trigo de sequeiro do Cerrado será o responsável pela autossuficiência do País na produção do cereal, pois sofre menor risco de perdas em relação ao plantado no Rio Grande do Sul, já que a colheita entre julho e agosto, quando geralmente não há ocorrência chuva, garante a uniformidade na qualidade dos grãos. “O produtor está cada vez mais dominando essa tecnologia. Pelos nossos dados, o trigo sequeiro aqui será mais competitivo e viável de produzir. Mesmo não tendo uma produção tão grande, dá retorno porque tem custo menor, além de estar melhorando o ambiente para a soja, facilitando o controle da buva e do capim amargoso, plantas daninhas que já estão resistentes ao glifosato”.

Políticas públicas

Já Silvio Farnese externou a preocupação do MAPA em aumentar a área de produção do trigo no Cerrado. “É o único produto de expressão no consumo nacional do qual ainda somos importadores e temos o Cerrado, além do Sul do Brasil, para o crescimento da triticultura”, disse, salientando que o caminho para reduzir a dependência externa do trigo passa pelo Bioma Cerrado. “A ministra Tereza Cristina está bastante interessada em que isso aconteça”, acrescentou.

Entre as políticas públicas citadas para impulsionar a triticultura e o agronegócio brasileiro, como a Lei 13.986/2020, o Plano Safra 2020/2021, o Pronaf, o Pronamp e o Inovagro, Farnese lembrou a Política de Garantia de Preços Mínimos para o trigo. “Desde 2016, o mercado tem trabalhado com preços sinalizadores e positivos. Agora, estamos vendo o trigo com cotações que dão rentabilidade sustentável ao produtor, e isso é muito saudável”, comentou. Para a região Centro-Oeste, foram definidos os preços mínimos de R$ 828/ton para o trigo pão e de R$ 876/ton do trigo melhorador, baseados nos custos levantados pela Conab e discutidos com o setor.

“Esse é o nível de piso que garantimos e abaixo do qual, ao cair o preço, temos operações de sustentação para que o produtor receba esses valores. Isso permite que ele não quebre e se sustente numa crise de preços, com apoio do governo. Ainda bem que, nesses últimos tempos, o mercado está com preços muito além disso”. Segundo o diretor do Departamento de Comercialização e Abastecimento do MAPA, os preços mínimos são cerca de R$ 100 maiores que os definidos para o Sul para incentivar a produção na região. “Entendemos que o trigo no Centro-Oeste é o caminho que vamos trilhar no futuro para a nossa independência em relação às importações”, declarou.

Após as falas, os participantes responderam às perguntas encaminhadas pelos internautas que acompanharam a transmissão da live.

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